No filme que ganhou o Oscar de melhor filme em 2013, o protagonista é um homem negro livre, mas que sofre uma emboscada e se vê privado de sua liberdade para ser um escravo. Durante todo o filme ele busca sair dessa situação, contada de forma brilhante nos cinemas do mundo inteiro.
Tal situação viveu também o Vasco. Uma vez chamado de Gigante da Colina, tetracampeão brasileiro, campeão da Libertadores e da Copa do Brasil, não vencia um simples estadual do Rio a 12 anos, mesmo tempo que foi escravo o heroi interpretado por Chiwetel Ejiofor nas telonas.
O torcedor cruzmaltino vivia aprisionado. Ano após ano sendo motivo de chacota para seus conterrâneos e rivais, o torcedor estava privado da sua liberdade. Liberdade de dizer com orgulho “sou Vascão”, liberdade de dizer “campeão do Rio”. Tudo isso estava prestes a mudar como num roteiro cinematográfico.
O maior publico do futebol brasileiro no ano de 2015 se juntou no Maracanã para uma final improvável. O Botafogo, time da série B nacional, jogando contra o Vasco, recém promovido da divisão inferior sem ser campeão. Ambos os times passaram por reformulações gigantescas em seu plantel, contratando jogadores desconhecidos, veteranos e apostando em alguns da base.
O Botafogo havia vencido a Taça Guanabara, primeiro turno carioca, com a melhor campanha, mesmo desacreditado por sua própria torcida. Tirou o Fluminense nos pênaltis e avançou na raça. Um time que mesmo sem muita criatividade, encontrou sua forma de jogar, marcando forte e saindo em contra ataques de um renascido Jobson e contando com gols de Bill.
O Vasco chegou a dar um susto em seus torcedores na primeira fase do estadual. Tinha uma das melhores defesas do campeonato mas um ataque que não se encontrava. Muitas trocas de jogadores, contusões e mesmo assim Doriva conseguia manter um padrão tático e que explorava bolas paradas com qualidade. Rodrigo e Luan fizeram um campeonato excelente e ajudaram a eliminar o Flamengo e chegar a final.
Diante desse cenário poderia se esperar uma final de baixo nível técnico, poucos torcedores, muita marcação e pouco futebol. Mas felizmente isso não aconteceu! Dois jogos emocionantes, chances para os dois lados em ambos os jogos, e os times fizeram jus as tradições do futebol carioca.
O Vasco foi superior, não há como negar. Doriva caminha para ser um dos grandes nomes da nova geração de técnicos do Brasil, principalmente pelo fator conhecimento. Não digo conhecimento tático, Doriva até tem bastante, mas digo do conhecimento do seu próprio grupo, altos e baixos, pontos fortes e fracos. Doriva enxergou seu time exatamente pelo que ele é, usou isso a seu favor e quebrou um jejum de 12 anos sem títulos estaduais para o Vasco.
Por falar nisso, como acabar com os estaduais depois de jogos como esses de domingo? Doriva ergue a taça com orgulho de um campeonato que nasceu pra brilhar, mesmo quando não é o melhor tecnicamente.
Parabéns ao Vasco, finalmente livre e campeão carioca de 2015.
Aquele abraço
Fábio Marques