Algumas pessoas se acham cristãs demais, ou santas demais e pecadoras de menos, para se envolverem minimamente com política ou, como chamam, com “negócios dessa vida”. Isso vem de longe, a partir de uma equivocada interpretação da ideia que preconiza a divisão entre Igreja e Estado. O filósofo cristão Francis Schaeffer, em Manifesto Cristão, denuncia: “Hoje a separação de igreja e estado é emitida para silenciar a igreja. A consequência dessa doutrina leva à retirada da religião como influência no governo civil”.
O que podemos inferir, afinal, da condição de não assumirmos a nossa postura cristã e cívica de participantes efetivos da vida da nossa cidade e, ao contrário, nos desculparmos e darmos ouvidos aos que dizem que eleição e política são coisas pecaminosas do mundo? Ora, que estamos apenas sendo omissos! Desse modo, enquanto recuam os cristãos que normalmente deveriam lutar para a implantação do bem, esse mesmo bem que desejamos não se efetiva e o mal que detestamos avança. Esse é o preço a pagar pela omissão, que no final sai salgado demais para toda a sociedade.
Entendo que há quatro fases distintas do processo da participação evangélica brasileira em cargos políticos ao longo da história. Na primeira fase, se dizia: Política é coisa do diabo e do mundo, é algo sujo onde o crente não deve se envolver. Nessa fase, não havia praticamente nenhum evangélico ocupando cargos eletivos. Os únicos que se alegravam eram o Diabo e o mundo. Enquanto isso, os crentes sofriam todo tipo de perseguição nas mãos dos religiosos majoritários, tudo sob o olhar cúmplice das autoridades.
Na segunda fase, se preconizava que evangélico na política era só aos participantes de igrejas históricas. Nesse tempo, se alegrava uma pequena porção de evangélicos, mas a maioria pentecostal era apenas massa de manobra. Na terceira fase, quando os pentecostais entraram definitivamente na política, todos os demais segmentos passaram a buscar representação. Então os evangélicos se tornaram uma ameaça para o mundo e para o Diabo.
Na quarta fase ocorreu o fenômeno da divisão interna, quando políticos “tarimbados” utilizaram a lógica maquiavélica de “dividir para governar” e pulverizaram a influência de todos os evangélicos. A lógica era nos dividir internamente, com a indicação do maior número de candidatos “evangélicos” em seus partidos, para que o povo evangélico não elegesse mais nenhum representante.
Assim, vez por outra, oscilamos e voltamos à condição da primeira fase. Não somos mais ameaça, todavia somos motivo de escárnio e riso dos adversários. Isso só demonstra falta de inteligência corporativa. Perdemos a noção de grupo social. Só o Diabo e o mundo ganham nesse terreno minado da política rasteira.
Ao agir na política, é necessário que pensemos em termos de ocupar lugar no Parlamento como uma missão de cidadania, pois política é uma área missionária como qualquer outra. É preciso ver uma eleição como sendo uma oportunidade de fazer com que não só alguém seja eleito para nos governar e fazer leis, mas também para que a pessoa que ama a Jesus tenha o direito de estar entre os poderosos e exercer a sua influência salutar. Não quero afirmar que, por ser um candidato evangélico, alguém mereça ser votado. Mas não quero também dizer que, por ser evangélico, não possa ser votado. Se tiver condições de ajudar a legislar e é evangélico, melhor ainda.
O meio que temos para enviar um missionário ao Parlamento é o voto. Só vai ser representante no Poder Legislativo Municipal e ter direito de usar a tribuna, votar, defender as causas boas para a cidade, se tiver o número de votos para ser eleito. Se não tiver, pode ser o melhor candidato, mas ficará de fora. Trabalhar com a perspectiva de missão parlamentar pode nos ajudar a fazer três coisas. Primeiro, serve para fazermos efetivamente algo bom por nossa cidade. Devemos inferir que se não contribuirmos para melhorar e fazer prevalecer o bem, então teremos de suportar quando o mau político triunfar sobre a nossa indiferença.
Segundo, serve para fazer algo por nossa fé, pelo nosso segmento social. O que podemos fazer, uma vez representados como um segmento social importante, é fundamental na medida do poder que as nossas contribuições em termos de cultura cristã e exemplos seguros de ética e moral possam influir para o bem estar social. Ademais, na hora dos conflitos sociais, devemos ter o direito de contar com representantes que falem por nós e defendam a nossa causa. Terceiro, serve para fazer algo que reflita o nosso amor por Jesus. Pois Ele próprio nos ensinou que devemos ser sal e luz em todo lugar, com o nosso efetivo testemunho de transformação que o Evangelho proporciona. Assim, convido todos os belenenses, por amor à nossa cidade, a votar e eleger as autoridades que nos governarão e representarão os diversos segmentos sociais a que pertencemos, nos próximos quatro anos.
Aos assembleianos, peço que orem e procurem conhecer melhor a missão de cidadania de nossa Igreja, que há 18 anos nos orienta a somar forças, produzindo a eleição de quatro competentes vereadores de Belém, que também são nossos irmãos em Cristo, a saber: Iran Moraes, Josias Higino, Moa Moraes e Dinely, aos quais agradecemos.
Paz sobre todos!
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv