Na Primeira Guerra Mundial, os aviões não tinham válvula reguladora de velocidade. Constantemente voando em velocidade máxima, os motores acabavam se fundindo facilmente, de modo que decolagens e aterrissagens eram sempre uma aventura de final incerto e perigoso. Pouco tempo depois, os aviões evoluem e trazem válvulas, mas com a seguinte instrução: “A força de partida (potência total) deve ser usada por, no máximo, cinco minutos”. Os pilotos eram instruídos a diminuir logo a potência, pois, do contrário, estariam arriscando a própria vida.
A mensagem aos pilotos era clara: é perigosíssimo viver sem limite. E mesmo quando “no limite” da potência máxima, não se pode viver nele o tempo todo.
De fato, não existe vida sem limites, em qualquer que seja a área ou dimensão da vida. Os que praticam esportes radicais sabem que o máximo que conseguem é viver “no limite”, e assim mesmo por pouco tempo. Deus criou leis físicas e espirituais que dizem exatamente isso: quem quiser viver sem limite vai sofrer as pesadas consequências de sua escolha.
Pense na lei da gravidade. Um homem não será mais livre por se lançar de um prédio de vinte andares, sem paraquedas. Quem desafia essa lei além do limite consegue, no máximo, alguns segundos de pura adrenalina, para então se arrebentar no chão. É necessário, antes, se cercar de cuidados, usar apetrechos de proteção, seguir certas regras; é preciso ter controle da situação de risco, pois o desastre está logo ali depois do descuido ou da ousadia insana.
Ora, se é assim quanto às leis da física, como não seria com as leis espirituais? Não são poucos os que rejeitam a autoridade e relevância da Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada, tendo-a como ultrapassada e alardeiam a sua suposta desvalia para os dias atuais. Mas o que isso muda?
Ficar repetindo que a lei da gravidade não existe não a torna inoperante nem nos livra dos tombos. Dizer que as leis de Deus não existem, igualmente, e proceder em desacordo com as mesmas, não nos torna isentos das consequências.
Não são poucos os que praticam o sexo fora do casamento, recorrem ao aborto, vivem em práticas homossexuais, aceitam a corrupção, pirateiam produtos, buscam levar vantagem em tudo, vivendo como se tais comportamentos fossem inteiramente aceitáveis. E, de certa forma, algumas sociedades não ligam a mínima. “Faz parte” — dizem.
As pessoas — e, em última instância, as sociedades — tornaram-se sua própria autoridade para determinar o que é certo ou errado. E chamam isso de liberdade!
Lembro-me que, há muitos anos, a propaganda de uma conhecida marca de automóveis alardeava confiantemente: “Viva sem limites com o carro ‘tal’… e viva a vida”. O anúncio soava como se dirigir um carrão novo daquela marca desse total liberdade para fazer qualquer coisa que o coração desejasse. Mas é claro que tais apelos nunca significam exatamente o que dizem. Pois quem já ouviu falar de uma vida “sem limites” que durasse ou valesse a pena?
Apelos publicitários desse tipo têm uma razão de ser: muitos desejam viver uma vida sem limites. Milhões estão fazendo exatamente isso, e a maioria deles nem mesmo tem um “carrão”.
Não são poucos os que confundem viver em liberdade com viver sem limites. Viver a liberdade não é uma questão de viver do jeito que se quer, mas viver dentro do limite imposto pelas leis de Deus e, assim, viver bem e desfrutar dos seus benefícios.
É isso que se espera de todos os cristãos, como diz Paulo: “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor. Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5.13).
A proposta ilusória de viver sem limites morais sempre passa pela falta de amor: a Deus, a si mesmo e ao próximo. Só que isso jamais trará liberdade alguma.
A minha oração é que Deus continue levantando profetas para anunciarem aberta e corajosamente o caminho da verdadeira liberdade, que não tenham medo de chamar o pecado pelo nome, que não negociem os valores espirituais revelados na Bíblia; em suma, que não alarguem o caminho da salvação, mas mostrem o quanto é “estreito”.
A Palavra de Deus diz: “Cuidado com aqueles que chamam o mal de bem”. Mas é exatamente isto que têm feito os que não querem limites.
Uma sociedade que perde o seu equilíbrio moral e inverte seus valores, acaba também dando novos nomes a problemas antigos. Quando exploram os pobres com “esperança” baseada em jogatina, chamam isso de loteria. À preguiça e improdutividade de trabalhadores ociosos, chamam de bem-estar social. Ao aborto, chamam de justificada escolha da mãe. À negligência da disciplina dos filhos, chamam de construção da autoestima. Ao abuso de poder, chamam de política. À inveja das coisas dos outros, chamam de ambição. À poluição moral com coisas profanas e pornográficas, chamam de liberdade de expressão. À zombaria e ao escárnio dos valores morais e espirituais dos antepassados, chamam de iluminismo.
Viver sem limite tem limite. Vida sem limite é igual a prejuízo eterno. Mas viver no limite da vontade de Deus conduz à verdadeira liberdade e à salvação eterna. Qual a sua decisão?
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv