Uma escolha que faz toda a diferença


pr_samuel

Era uma vez uma festa no céu, para a qual todos os animais foram convidados, inclusive Abrutus, o abutre. O banquete estava fartíssimo, com tudo da melhor qualidade e variedade. Nenhum defeito. Até que começa a exalar um terrível mau cheiro por todos os aposentos. “O que houve?”, perguntavam todos. O Sapo resolve abrir o bocão e diz: “É o Abrutus que está comendo uma carniça. Eu o vi quando tirou de um saco plástico uma velha carniça”. Abrutus, diferentemente dos outros animais, era inclinado para coisas ruins e malcheirosas. Assim, diante da gravidade da situação, uma comissão foi designada para falar com Abrutus. “Honorável Abrutus, por que, com tanta fartura de coisas boas, você teve a ousadia de trazer uma carniça para a festa?”, pergunta o Sr. Coruja, presidindo a comissão. Abrutus respondeu meio acabrunhado: “Desculpem, companheiros, mas é a minha natureza… é a minha natureza.

Esta parábola ilustra o aspecto essencial da nossa natureza pecaminosa. Fazemos o que fazemos, porque somos o que somos. Por exemplo, um gato não é gato porque mia; mia porque é gato. Um cão não é cão porque late; late porque é cão. O abutre não é abutre porque gosta de carniça; ele é dado a carniças porque é abutre. Assim, de modo semelhante, o homem não é pecador porque peca; peca porque é pecador.

O ser humano não pode, por si só, mudar a sua natureza, como diz a Bíblia: “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal?” (Jr 13.23).

Vez por outra eu me deparo pensando na razão pela qual o ser humano é capaz de atos de extrema maldade, como matar, torturar, abusar sexualmente de crianças, engendrar atos terroristas, entre outros. Então pergunto: por que crianças são abusadas sexualmente pelos próprios parentes ou por sacerdotes, os quais deveriam zelar pela integridade física, moral e espiritual delas? Por que uma mãe joga uma criança recém-nascida numa lagoa ou a abandona numa lata de lixo? Por quê?

Se, como preconiza a teoria da evolução, somos “macacos evoluídos”, que tipo de evolução é essa que, a despeito de todo o crescimento dos mecanismos sociais de controle e desenvolvimento, anda na contramão da moralidade fundamental que todos nós sabemos no íntimo ser correta e necessária à paz social?

Por que então nos perturbamos com a permissividade, a pornografia, os problemas na educação, o desmoronamento da família, o aborto, a criminalidade? Sendo criados à imagem e semelhança de Deus, por que andamos em geral tão distantes deste padrão?

Além do aspecto da nossa natureza decaída, a meu ver, há mais duas vertentes básicas que ajudam a explicar essa problemática. A primeira é que as pessoas se acostumaram a ver o mundo em partículas, ao invés de ver a totalidade. Isso ocorreu por causa de uma mudança de cosmovisão, ou seja, na maneira integral em como as pessoas pensam e veem o mundo e a vida como um todo. Isso é caracterizado pelo afastamento de uma visão de mundo, que era pelo menos vagamente cristã, em direção a algo totalmente contrário, baseado na ideia de que não há absolutos e que a realidade final é matéria ou energia impessoal posta na atual forma pelo acaso igualmente impessoal.

Ora, se não há um Deus pessoal moralmente santo a quem possamos amar e a quem devamos prestar contas, o pecado – incluindo desvios de conduta ética e moral, violência, drogas, crimes etc. – tudo é visto apenas como “doença” que deve ser tratada. Tudo fica resumido aos aspectos físico-químicos da existência.

A segunda tem a ver com a condição básica de fazer escolhas morais, nos dois extremos da nossa capacidade de arbitrar, para o bem ou para o mal. Deus nos criou de forma que o livre arbítrio é a nossa maior bênção, mas também pode ser a nossa maldição. Deus nos deu, portanto, a liberdade de decidir como agiremos. Essa vantagem é a marca que nos diferencia dos animais, mas pode transformar-se em uma fonte de muita dor no mundo, quando as anormalidades do nosso caráter se manifestam. Consequentemente, pessoas que se consideram boas e corretas podem, geralmente, fazer escolhas más e tomar decisões egoístas.

De pequenos deslizes de conduta até crimes maiores, há uma característica comum que subjaz à nossa própria vontade, chamada de pecado. Por isso, alguém pode nem mesmo compreender o seu próprio modo de agir, pois não faz o que prefere, e sim o que detesta (Rm 7.15). A solução para esse dilema está em Cristo. Ele muda a nossa natureza pecaminosa, como está escrito: “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2Co 5.17). Todos nós precisamos de uma nova natureza.

Quando cremos em Jesus, recebemos Dele o perdão dos pecados e uma nova vida. A partir daí, não é o fazer o bem que nos torna bons, mas o fato de termos uma nova natureza é que nos faz praticar as boas obras que glorificam a Deus (Mt 5.16). Assim, fazer o bem é o reflexo da escolha de vivermos em Cristo, por Ele e para Ele. Essa é a escolha que faz toda a diferença.

Samuel Câmara

Pastor da Assembleia de Deus em Belém

E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv