A situação atual do Brasil inspira cuidados, principalmente quando suas instituições estão sendo postas à prova. Há um julgamento político em curso, com o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, agora em sua fase final no Senado Federal. A Operação Lava-Jato a cada dia nos surpreende com novas revelações de corrupção e a enormidade de dinheiro público desviado para fins escusos. E agora, começou de vez a campanha para as Eleições 2016, quando escolheremos, através do voto, em cada município, prefeito e vice-prefeito, assim como os vereadores que integrarão as Câmaras Legislativas. E isso com todas as limitações de financiamento de campanha impostas pela nova legislação eleitoral. Um prato cheio para corruptos, caixa dois e o crime organizado, dizem os especialistas.
Com toda a grandeza e exuberância do nosso país, e a despeito de suas mazelas já de muito conhecidas, talvez alguém arrisque um pensamento de que não corremos riscos maiores, pelo simples fato de sermos uma democracia sólida o bastante para enfrentar essas intempéries. Mas o que era a Argentina há um século? Um país rico, renda per capita de padrão europeu, educação de alto nível. E o que se vê agora? Ora, os argentinos ficaram tão absortos no sucesso de uma época de grande prosperidade, que foram deixando de se importar com pequenos atos de corrupção… até que no país se instalou o pior de lideranças populistas. Por isso, é necessário perguntar: até que ponto nos importamos com o destino do Brasil?
De tempos em tempos, esse destino fica literalmente em nossas mãos. Nessas ocasiões nós é que decidimos, pelo voto, dar poder e autoridade às pessoas que nos governarão. Por isso é importante começar a se importar a partir desse primeiro passo, pois de alguma forma seremos responsáveis, por ação ou omissão, pelo que teremos adiante.
Se há quem deva se importar mais, por dever de consciência e cidadania, é o que se diz seguidor de Jesus Cristo. Primeiro, porque a Palavra de Deus nos orienta sobejamente que temos uma parcela importante de responsabilidade social. Isso tem a ver com amar o próximo, com a prática da justiça e o exercício da misericórdia. Decerto somos cidadãos do Céu, vamos um dia morar com o Senhor; mas enquanto estivermos aqui, temos de fazer o “dever de casa”. Segundo, se as coisas derem errado, normalmente os cristãos serão os primeiros a sofrer as consequências, pois no caos e na desordem, sem uma proteção institucional adequada, ficarão à mercê da maldade dos injustos e corruptos.
A Bíblia ensina que “não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas”. Quem a exerce, se pratica o bem ou o mal, prestará contas principalmente a Deus. Em um regime democrático, onde as autoridades políticas são eleitas pelo voto popular, nós também somos igualmente responsáveis por aqueles que elegemos. Deus é um Deus de ordem. Ele quer que a sociedade seja o mais harmônica possível, e isso tem a ver com as pessoas certas nos lugares certos e fazendo a coisa certa. Temos, portanto, de elegê-las, pois “a autoridade é ministro de Deus para o nosso bem” e também “para castigar o que pratica o mal” (Rm 13.1). Quando a autoridade constituída não exerce essa função básica, certamente ajuda a estabelecer a impunidade como marca social de desagregação e desordem.
Temos também de dar um passo de natureza essencialmente espiritual, utilizando o poder da oração, em suplicar a Deus por nosso país e pelas autoridades constituídas. Como está escrito: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus” (1Tm 2.1-3).
Alguns cristãos sinceros e “espirituais” se escondem atrás da ideia de que religião não se mistura com política, e então se omitem sob essa cortina de fumaça ideológica. Essa, no entanto, é uma maneira equivocada de ver a questão. O filósofo cristão Francis Schaeffer disse: “Hoje a separação de Igreja e Estado é emitida para silenciar a Igreja. Quando cristãos falam declaradamente sobre quaisquer questões, o tom de protesto da parte do Estado e dos meios de comunicação humanistas é que os cristãos estão proibidos de falar, porque existe separação entre Igreja e Estado. O conceito é usado hoje de modo totalmente oposto ao intento original. A consequência dessa doutrina leva à retirada da religião como influência no governo civil”.
O teólogo Dennis McNutt opina: “Se nós, cristãos, devemos amar o próximo, temos o dever de monitorar os políticos, a polícia e os tribunais que aplicam seus poderes no próximo. As autoridades públicas merecem nosso apoio quando protegem os inocentes e castigam os malfeitores. Quando erram, temos de exigir reformas. Trabalhar por justiça e equidade é ato de alta espiritualidade, em todos os seus sentidos, assim como jejuar, orar, dar dízimo ou ir ao campo missionário, pois se trata de uma maneira de amar o próximo”.
Ora, se importar é fazer caso, dar importância, ter consideração pelo meu país e pelo meu próximo. Então, é bom que o façamos, pois só assim teremos uma sociedade mais digna e justa, e deixaremos um melhor legado aos nossos filhos. Mostre que você se importa com o Brasil.
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv