O tic-tac do relógio de Deus


Vez por outra surge uma notícia de viés apocalíptico anunciando o fim do mundo. No século XIX, várias predições de grupos ditos “cristãos” foram anunciadas como “profecia” e se destacaram por tentarem marcar a data do retorno de Cristo. O tempo foi passando e todas falharam fragorosamente, e seus líderes, para não caírem em descrédito permanente, se elevaram como “profetas” de seu próprio grupo e criaram seitas, algumas das quais perduram até hoje, mesmo que sua base tenha sido o engano.
A partir de 2010, vários exegetas da história dos maias, pretextando transformar em profecia o que alfarrábios da simbologia pagã maia pretensamente proclamava, anunciaram o fim do mundo para 2012. A esperteza mercadológica de Hollywood não perdeu tempo, e filmes foram lançados exaltando a cultura maia e propalando sua “profecia de fim do mundo”. Na época, eu escrevi um artigo denunciando essa “esperteza” como mais uma profetada deselegante que se agigantou por causa da mídia alarmista que lhe deu guarida, também alertando que os tempos e épocas pertencem à estrita autoridade de Deus.
Agora, mais uma vez, marca-se para o dia 23 de setembro um “acontecimento sobrenatural no céu”, como está sendo fartamente anunciado nas mídias sociais da internet, com o adendo de todo tipo de “especialista” dando “pitacos” antecipados sobre “o fim do mundo”. Mas tudo o que se sabe é que teremos de esperar para saber se isso tem algum fundamento. Coisa insana!
Mas isso não é nada novo. É só uma reedição piorada do que ocorreu, certa feita, quando Jesus estava com Seus discípulos no pátio do Templo, em Jerusalém. Os discípulos teceram rasgados elogios àquela majestosa construção, mas Jesus, surpreendentemente, lhes disse que daquele edifício não ficaria pedra sobre pedra. Momentos depois, já no Monte das Oliveiras, os discípulos, vencidos pela curiosidade, estavam interessados em saber detalhes sobre o desenrolar dos acontecimentos. E então perguntaram a Jesus: “Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século?” (Mt 24.3).
Jesus lhes deu diversas instruções sobre o fim dos tempos e acrescentou que o tempo do fim estava circunscrito à exclusiva autoridade do Pai, pois só Ele o sabia. Ou seja, tudo dependia do “relógio de Deus”.
Não devemos estranhar, mas a Bíblia ensina que Deus também tem um “relógio”. Está escrito que Ele fixou “tempos previamente estabelecidos” (At 17.26). Por exemplo, Jesus nasceu em Belém da Judéia em um tempo predeterminado por Deus: “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou Seu filho” (Gl 4.4).
Nesse contexto, não é de admirar que Jesus tenha começado o seu ministério somente aos trinta anos de idade, não antes. Nessa ocasião, Ele disse: “O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.15). Ele o fez de acordo com o relógio de Deus. Até mesmo a Sua morte na cruz se deu “a seu tempo”, ou seja, no tempo exato de Deus (Rm 5.6). Deus também estabeleceu o tempo para o retorno do Seu Filho à Terra e fixou uma época para o acerto final de contas com a humanidade, quando todos “hão de prestar contas àquele que é competente para julgar vivos e mortos” (1Pe 4.5).
O relógio de Deus não falha, não se atrasa, a despeito da tortuosidade da história humana. Por exemplo, quando Jesus disse que do Templo não ficaria pedra sobre pedra, ninguém poderia conceber tal evento. Mas em 70 d.C., o general romano Tito invadiu Jerusalém, destruiu o Templo, e assim, a profecia se cumpriu cabalmente.
Quanto ao retorno de Jesus, há quem pense que o relógio de Deus está atrasado, pois já se passaram cerca de dois mil anos desde que Ele prometeu voltar ao ascender aos céus. Porém, o apóstolo Pedro responde: “Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento”. O tempo de Deus não é como o nosso, pois “para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia” (2Pe 3.8,9). Assim, para Deus, relativamente falando, só se passaram “dois dias”.
O tempo estabelecido por Deus chegará, quando Ele fará “parar o relógio”, ou seja, quando tudo se cumprir. Embora não saibamos o dia nem a hora do regresso do Senhor, Deus não nos deixou à mercê da incerteza. Pelo contrário, o próprio Jesus nos indicou vários sinais, a saber: incidência de muitas guerras; filhos se voltando contra os pais e vice-versa; surgimento de enganadores se fazendo passar por “Cristos”; fomes e terremotos em vários lugares etc. Disse também que muitos destilariam ódio sem causa, que a traição estaria na ordem do dia, que a iniquidade se multiplicaria e o amor se esfriaria de quase todos, que muitos perderiam a fé etc. Mas acrescentou que isso ainda não seria o fim, apenas “o princípio das dores” (Mt 24). Falta ainda o aparecimento do Anticristo, que é o último sinal (2Ts 2.1-4).
O apóstolo Paulo falou sobre os “tempos difíceis” que sobreviriam antes do fim: “Os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, antes amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder” (2Tm 3.1-5).
Quem duvida que esse tempo chegou? Em nossos dias, o declínio da moral, a morte da razão e a falta de amor tornaram em algo quase comum os lares desfeitos, filhos se levantando contra os pais e vice-versa, assim como a obsessão por sexo e imoralidade. Estamos completamente cercados por uma onda crescente de dissolução moral, com sua absoluta influência maligna na tessitura da nossa cultura cristã e se imiscuindo em cada nível de nossa vida social.
O relógio de Deus, porém, continua com o seu inexorável tic-tac, marcando cada compasso de um tempo que está prestes a se consumar. Em sabendo disso, seremos sábios se acertamos o nosso “relógio espiritual” com o de Deus, para que aquele tempo não nos pegue desprevenidos.
A volta de Cristo se aproxima, e o fim, vem! Você já se preparou?

Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv
 

 
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém

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