Lá vem o Brasil descendo a ladeira…


pr_samuel

Lá vem o Brasil descendo a ladeira… Não, não é da música homônima que se trata, antes é da mais dura e intragável realidade. O Brasil está descendo a ladeira, literalmente, em decorrência principalmente da grave crise política e econômica em que o país está imerso. Mas também desce a ladeira na festividade carnavalesca, como se nada de anormal estivesse acontecendo. Para os brasileiros isso é “café pequeno”, coisa normal, juntar crise no bolso com samba no pé, e a vida continua, não importa se perdemos uma semana de trabalho, quando o país inteiro para “pra ver a banda passar”. Mas para o resto do mundo, isso não é normal. Tanto que a revista britânica The Economist recentemente publicou reportagem na qual dizia que o Brasil festejaria o Carnaval na beira do precipício, obviamente referindo à grave crise política e econômica que assola o país.
Isso é semelhante, guardadas as devidas proporções, ao passarinho que se achava na condição de grande negociador quando resolveu trocar algumas de suas penas por alguma minhoquinhas.
Conta a fábula que em uma ensolarada manhã dois passarinhos sobrevoavam com alarido um frondoso bosque. A mamãe passarinho dizia ternamente ao seu filhote que era maravilhoso uma ave poder voar a elevadas alturas. Todavia, o pequerrucho, em sua inexperiência, não escutava com atenção as explicações de sua mãe, pois estava a ouvir o tilintar distante de uma campainha que provinha de um campo florido.
Curioso, o pequeno pássaro pousou na relva, junto a uma vereda, onde descobriu a origem do sonido que tanto o atraía, produzido pela sineta de um carrinho de mão conduzido por um anãozinho, que apregoava a sua mercadoria: “Vendo minhocas! Duas minhocas por uma pena”.
Como o passarinho gostava muito de minhocas, sem nenhuma reflexão, tratou logo de arrancar uma pena de suas asas e a trocou por duas minhocas. No dia seguinte, o pequeno pássaro aguardou, ansioso, o sonido da sineta, e novamente realizou a estranha transação, evento que se repetiu várias vezes. Mas chegou o momento em que o pequeno pássaro bateu as suas asas, tentando alçar vôo, para retornar ao ninho, mas não conseguiu; estava preso à terra e condenado a arrastar-se, ao invés de voar. Havia trocado a sua liberdade por um punhado de minhocas!
Esta fábula traduz, primeiramente, o estado do país, quando seu governo e liderança política trocaram o bem-estar econômico e social conquistado a duras penas (desculpem o trocadilho) por algumas minhocas porque lhes convinha perpetuar-se no poder. Assim também, representa milhares de vidas, quiçá milhões, que despenderão suas energias e depositarão suas parcas esperanças de alegria na folia momesca, quer seja como uma forma simplificada de extravasamento das emoções, ou pela sublimação de problemas de toda ordem.
Depois da quarta-feira de cinzas, quando o país fizer as contas, saberemos o quanto perdemos, tanto o país como os brasileiros. Quando muitos se derem conta da troca que fizeram, ao acordarem em meio às suas próprias cinzas existenciais, sem saber como reconstruir o que foi devastado pelos exageros financeiros e físicos, ou pela devassidão moral e espiritual, por causa dos excessos a que se submeteram, muitos vão perceber que perderam o seu bem mais precioso: a liberdade! Infelizmente, outros perderão a própria vida!
Não poucos, como na fábula, trocarão “penas por minhocas”. Meninas se tornarão “mães do Carnaval”, pois nesta época um número considerável de adolescentes entre 10 e 15 anos engravida na primeira relação sexual. Daí para frente, muitas se entregarão à promiscuidade sexual, outras praticarão aborto, ou darão à luz os indesejáveis “filhos do Carnaval”, para depois abandoná-los nas creches ou nos juizados.
Este triste “fenômeno brasileiro” é uma realidade estreitamente relacionada com o Carnaval, o que por si só deveria nos fazer corar de vergonha. No rastro dessa “troca”, haverá a disseminação das doenças letais e sexualmente transmissíveis, que infectarão inocentes e ceifarão muitas vidas preciosas. Outros contrairão débitos financeiros, que perturbarão a paz de indivíduos e famílias, que forçosamente sentirão a falta destes recursos.
A imprensa tem registrado esses fatos, como lastro de um grande serviço prestado à sociedade, para nos fazer refletir, pois nesses informes há sabedoria e lições que servem para o presente e para o porvir. Nada justifica que tenhamos de pagar o preço de ver nossos jovens, nossas crianças, famílias inteiras, todos entregues à própria sorte; ou melhor, lançadas à mingua de suas próprias dores existenciais para um futuro incerto e coberto de vergonha.
Ah, se o passarinho soubesse quanto lhe custariam aquelas “apetitosas” minhocas! Ah, se os políticos do Brasil soubessem avaliar as trocas egoístas que fizeram até aqui. Ah, se os nossos jovens soubessem o quanto pode ser perdido por uma troca irresponsável! Ah, se os nossos governantes soubessem o custo de tantas vidas destruídas com sua “bênção” oficial!
Eu estarei orando, assim como milhares de crentes em Jesus, para que o Brasil supere mais esta grave crise. Oraremos para que muitos sejam poupados dessas desgraças e alcancem a verdadeira alegria, mas sem as futilidades ilusórias do Carnaval. Quando a máscara cair, quando os “passarinhos” políticos e carnavalescos ficarem frente a frente com sua própria realidade, saberão que as minhocas dos seus desejos egoístas na verdade não valem a perda das penas nem da liberdade, principalmente se o Brasil desce a ladeira e festeja à beira do precipício.

Samuel Câmara

Pastor da Assembleia de Deus em Belém

E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv