Uma jovem cristã recém-convertida estava lendo os evangelhos. Quando terminou, disse a seu professor da Escola Bíblica que estaca com uma grande vontade de ler um livro sobre a história da Igreja. Quando o professor lhe perguntou a razão desse grande interesse, a jovem respondeu: “Estou muito curiosa. Queria saber quando os cristãos começaram a ser tão diferentes de Jesus Cristo”.
A perplexidade daquela jovem não nos deve causar estranheza, uma vez que existe realmente uma grande disparidade entre a vida de Cristo e a vida de muitas pessoas que proclamam o Seu nome e se identificam como Seus seguidores, quer sejam chamadas de “cristãos” ou simplesmente “crentes”. A decorrência óbvia desse fato inconteste é: quanto mais diferente de Jesus Cristo um seguidor Seu se parece, tão mais indiferente à Sua mensagem se tornará e, consequentemente, menos diferença fará no mundo.
Mas quem disse que o cristão tem que ser diferente? Quem se importa que o crente faça diferença no mundo dos indiferentes? A resposta é: Jesus! É exatamente isso que Jesus Cristo espera de Seus discípulos. O primeiro problema, certamente, é que nem todos os que se dizem cristãos ou crentes são verdadeiramente discípulos de Cristo; antes, professam apenas uma religião.
Jesus disse a Seus discípulos: “Vós sois o sal da terra… Vós sois a luz do mundo” (Mt 5.13,14). Isto é uma verdade da qual não se pode fugir, pois faz parte da própria natureza do seguidor de Jesus. A ordem colocada por Jesus, de que um discípulo Seu é primeiro sal e depois luz, tem uma razão de ser. O sal fala do que somos. A luz, do que fazemos. Uma coisa sem a outra é a sua própria negativa.
Como o sal é diferente do material sobre o qual é aplicado, o cristão tem de ser diferente das pessoas do mundo. Como uma pequena quantidade de sal faz uma enorme diferença, um único discípulo também pode fazê-lo. O mundo é essencialmente pecaminoso e mau, semelhante a um pedaço de carne que tende à putrefação. A função do sal é agir como um antisséptico, um transmissor de vida, saúde e preservação, funcionando como impedimento da atuação dos agentes que produzem a putrefação.
Além disso, o sal dá sabor. Sem a presença de Cristo no cristão, e deste no mundo, a vida inteira se tornaria insípida, perderia o sabor. As pessoas do mundo buscam sofregamente os prazeres pecaminosos, mas, ao mesmo tempo, sentem que a vida é enfadonha, sem sentido e sem graça. É por isso que o prazer, nessa perspectiva, vem sempre acompanhado de alguma droga que o potencialize. O seguidor de Jesus, ao contrário, pela sua fé na Palavra de Cristo, carrega em seu coração a fonte da vida, não precisa de droga nenhuma nem de qualquer agenciamento do pecado para ter prazer ou se sentir alegre e realizado.
A despeito de todo o conhecimento científico acumulado, o mundo não se tornou mais “iluminado”; antes, suas trevas continuam cada vez mais espessas. Por isso é que precisa desesperadamente da luz que emana de Jesus e é refletida a partir de cada discípulo Seu.
O primeiro efeito da luz é dissipar as trevas. Desse modo, a presença do discípulo de Jesus faz as pessoas tomarem consciência das trevas espirituais em que se encontram. A luz também explica as causas das trevas. O cristão, ao viver como luz, deixa patente o quanto as pessoas estão distantes e alienadas de Deus. Assim como a luz é inevitável, o seguidor de Jesus, por viver uma vida “diferente”, não pode deixar de ser notado, pois “não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte”.
Como sal da terra, o discípulo de Jesus exerce uma influência de aspecto geral, que tem a ver com a vida toda, pois o seu modo de viver contrasta, por sua excelência, a influência do mal. É uma ação “controladora”, no sentido de que preserva e dá sabor. Como luz, sua influência é mais específica. Quando as pessoas constatarem que há “algo diferente” naquele que segue a Cristo, então quererão saber o motivo. Desse modo, cada discípulo pode se destacar como elemento iluminador, pode falar da excelência da vida cristã e ensiná-las a viver uma vida abundante centrada em Cristo.
A vida do crente em Jesus sempre ofereceu motivos de sobra para o mundo estranhar, seja por seu comportamento diferenciado, ou por suas afirmações verbais a respeito da certeza de salvação eterna. Não é à toa que as pessoas, inclusive não poucos que se intitulam de cristãos, se indignam quando um crente em Jesus se diz “salvo”. Igualmente, é surpreendente o “incômodo” que a presença de um cristão fiel a Jesus causa nos ambientes que frequenta. Se um grupo costuma falar obscenidades, as pessoas se calam ou mudam de assunto à sua chegada, mesmo que este não diga palavra alguma.
Se alguém se diz cristão, mas não age como sal e luz, então é mais provável que cristão não seja. Tentar inverter as coisas, tentar ser primeiro luz sem ser sal, isto é, pregar sem viver, dá na mesma situação que alguém disse a um certo “cristão” nominal: “O que vives fala tão alto que não consigo ouvir o que pregas”.
Assim, quanto mais parecido com Jesus Cristo um cristão se torna, tão mais obediente à Sua mensagem será e, consequentemente, maior diferença fará no mundo.
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv