Rastros e cinzas de uma alegria fugaz


Dizem que Carnaval tem a ver com alegria. Só que uma alegria, fugaz, passageira, rapidinha, sem base consistente. A origem do Carnaval remonta a uma homenagem ao deus Saturno, cuja festa na Roma Antiga era chamada de “Saturnais”. Nesse período, as escolas e o comércio fechavam as portas, quando também os escravos eram soltos e o populacho saía às ruas para brincar e dançar. Havia carros alegóricos chamados de “carrum navalis”, por serem semelhantes aos navios, os quais levavam homens e mulheres em desfile pelas ruas da cidade. Dizem que pode ter saído daí a expressão “Carnavale”. Mas há controvérsias…
Inicialmente, a Igreja não aprovava nem recomendava o Carnaval. Mas no ano 590 d.C., depois de muitos debates, decidiu aceitar a festividade, mas com a seguinte condição: que se cumprisse a exigência de, no dia posterior à festividade, haver a dedicação dos fiéis ao arrependimento dos pecados; e então foi criada a Quarta-Feira de Cinzas.
Desde esse tempo, o Carnaval foi mudando aos poucos. Na Idade Média, os foliões incluíam em seus desfiles algumas sátiras aos poderosos. O que protegia os foliões de possíveis retaliações era a desculpa de que a festa os deixava “loucos”. E note-se, “folia”, em francês, significa “loucura”. Desse modo, o Carnaval se tornou um momento especial de extravasamento das “loucuras” de seus brincantes.
Ah, depois de tantas e tantas loucuras, quantos rastros de morte e destruição de vidas ficam marcados para sempre nas cinzas do Carnaval!
Exatamente por isso, temos a considerar que o marketing inerente ao mercantilismo do Carnaval tem a única preocupação de obter resultados financeiros – quase sempre alheios aos carnavalescos em geral – primando por esconder ou escamotear os rastros de destruição e suas prolongadas consequências na sociedade, muitas vezes ilustrado pelo conhecido caso das “mães e filhos do Carnaval”. Nesta época, não poucos adolescentes entre 12 e 17 anos engravidam na primeira relação sexual; e depois se lançam na promiscuidade sexual, praticam aborto, dão à luz a seus filhos e os abandonam nas creches ou nos juizados.
Ao longo dos anos, a imprensa tem documentado este triste “fenômeno brasileiro”. Mães sem esposos, filhos sem pais, daí o nome: “mães e filhos do Carnaval”, como se o Carnaval pudesse ser esposo para essas mães e pais para esses filhos. Gravidez indesejada, abortos e recém-nascidos abandonados são realidades estreitamente relacionadas com os rastros que o Carnaval deixa atrás de si, o que por si só deveria nos fazer corar de vergonha.
Acentue-se a isso a disseminação das doenças letais e sexualmente transmissíveis, as quais ceifarão vidas preciosas de muitas pessoas. E também os débitos financeiros contraídos nesta época, que perturbarão a paz de indivíduos e famílias, as quais forçosamente sentirão a falta destes recursos. Embora não sejam fatos positivos, o registro deles pela imprensa é um grande serviço prestado à sociedade e merece a reflexão de todos nós, pois nele há sabedoria e lições que servem para o presente e para o porvir.
Nada justifica que, em nome do turismo ou de ganhos financeiros que a festividade possa garantir, tenhamos de pagar o preço de ver nossos jovens, nossas crianças, famílias inteiras, todos entregues à sua própria sorte; ou melhor, largadas à mingua de suas próprias dores existenciais para um futuro incerto e coberto de vergonha.
Mas há outra realidade, a do verdadeiro crente em Jesus, que não mascara a sua realidade, pois é o que é. Os rastros deixados por sua vida não são fruto de excessos pecaminosos, mas da ação purificadora do sangue de Jesus Cristo; as cinzas do pecado já foram sopradas para longe pelo vento renovador do Espírito Santo.
O crente em Jesus não deixa rastros do Carnaval, pois experimentou o novo nascimento em Cristo, teve os pecados perdoados e o coração transformado. Sua nova vida agora é vivida em Cristo, por Cristo e para Cristo, em obediência e gratidão ao Deus que o “libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Cl 1.13).
Infelizmente, há aquelas figurinhas carimbadas que se chamam de “evangélicas”, as quais precisam recorrentemente potencializar sua fama, e para isso desfilarão na passarela no Carnaval e cairão na farra, dizendo que estão a “rebolar em nome do Senhor”. Só que suas atitudes blasfemas mostram claramente que tais “celebridades” verdadeiramente não conhecem ao Senhor Jesus.
Quem não conhece Jesus busca esse tipo fugaz de alegria, precisando beber das “águas barrentas” que o Carnaval oferece. Mas quando a máscara cair, finalmente ficará frente a frente com a realidade de suas próprias cinzas existenciais. Essas pessoas precisam de Jesus, que disse: “Quem beber dessa água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (Jo 4.13).
Se você precisa mascarar a sua vida, e depois se lamenta pelas cinzas e rastros deixados por causa de uma alegria fugaz, volte-se para Jesus e entregue a Ele a sua vida. Em seguindo a Cristo, terá vida abundante e a verdadeira alegria, e também “não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” (Jo 8.32).
Com Jesus é perfeitamente possível ter paz, alegria e sentido na vida, pois Jesus é o Caminho que não deixa rastros ruins, mas produz exemplos que dignificam; é a Verdade que não nos esmaga, mas ilumina nossas vidas de sentido e dignidade; é a Vida que não cobra o preço da nossa morte, porque Ele morreu e ressuscitou para que tenhamos vida abundante. Saiba: a verdadeira alegria está em Cristo!

Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv

 
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém

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