Alípio era um teórico da música do quarto século que procurava viver uma vida digna. Ele era sempre convidado por seus vizinhos a assistir aos combates de gladiadores, mas se recusava terminantemente, pois detestava a brutalidade desses programas bárbaros. Sua história foi contada pelo escritor J. N. Norton, que acrescenta o que ocorreu certo dia, quando conseguiram convencê-lo a ir. Como Alípio estava determinado a não assistir ao espetáculo sangrento, fechou bem os olhos e não quis ver absolutamente nada. Mas um grito cortante o fez dar uma olhadinha na hora em que um dos lutadores estava sendo ferido mortalmente. O que ocorreu com ele a partir daquele momento foi emblemático. Com a sua sensibilidade embotada, Alípio juntou a sua voz aos gritos e exclamações da multidão barulhenta que o cercava, primeiro como uma espécie de protesto, que logo se transformou em uma velada aprovação.
Daquele momento em diante, ele passou a ser um homem mudado – mas mudado para pior; não apenas se tornou assíduo frequentador desse esporte, mas passou também a instar com outros a fazerem o mesmo. A lição que Norton destaca é que, apesar de Alípio ter entrado na arena contra a sua vontade, a exposição ao mal mostra o que pode acontecer com as melhores pessoas ao sentirem o gostinho pelo prazer destrutivo. Antes de o perceberem, já estão escravizados a ele.
Assim, cuidado com o que você assiste. Pergunte a si próprio – e procure responder com sinceridade – se a sua casa é local de assassinatos diários ou de outros tipos de males. Verifique se você tem recebido costumeiramente convidados que xingam você e fazem piadas sobre a sua fé. Já aconteceu de alguém aparecer em sua casa e tentar convencê-lo de que o pecado sexual é uma piada, que traição é algo normal, que ideologia de gênero é aceitável, que parcerias sexuais entre pessoas do mesmo sexo é bíblico e normal, e também que a violência produzida como entretenimento é uma forma de lazer?
Se você geralmente passa algumas horas por dia diante da televisão, ou navegando e assistindo vídeos impuros na internet, então tudo isso certamente já aconteceu com você. Embora não seja nenhuma novidade, o conteúdo moral do cinema, da televisão, e especialmente da internet, tem decaído constante e rapidamente nos últimos anos. A boa notícia é que nós não temos que cair junto, nem consumir ou mesmo nos deixar influenciar por toda essa sujeira lançada por esgotos tecnológicos. Mas que isso causa influência em almas energúmenas por todo o mundo, é vero!
Todavia, isso não é um fenômeno novo. O mundo tem sido bombardeado por todo tipo de dejetos morais há mais tempo do que a maioria de nós parece disposto a admitir.
Na França, foi publicada uma estatística sobre os assuntos que serviram de temas para os filmes distribuídos pelas empresas americanas em um ano, chegando-se aos seguintes números: 310 assassinatos; 104 roubos à mão armada; 74 delitos de chantagem; 43 incêndios voluntários; 14 delitos por trapaças; 642 casos de furtos; 182 casos de falso testemunho; 54 desvios de menores; 192 casos de adultérios femininos; 213 casos de adultérios masculinos. Essa escola profissional de rótulo, crime e imoralidade produzidas em Hollywood refere-se a uma pesquisa realizada quando a maioria dos leitores ainda nem tinha nascido, no longínquo ano de 1936. Depois disso, obviamente, a coisa piorou assustadoramente!
Um dado importante é que as crianças que nasceram nessa época, tendo sido expostas rotineiramente a esse tipo danoso de entretenimento malicioso, certamente foram os jovens que protagonizaram as muitas “revoluções sociais” de comportamento para pior que o mundo enfrentou a partir dos anos de 1960, inclusive a famigerada “revolução sexual” que lançou nossos jovens no lamaçal movediço de muitas doenças sexualmente transmissíveis e, por fim, à morte precoce.
No Brasil, vez por outra entra-se no interminável e inconclusivo debate se a regulamentação de horários de programação televisiva deve ser restrita aos próprios meios de comunicação, ou se a tarefa deve ser efetivada pelo Governo. Não importa. O fato é que a maior parte do mundo do entretenimento fala muito sério sobre retirar todas as restrições. Proclamam tão seriamente isso que parece só nos restar o desafio de procurar proteger as nossas mentes e blindas as nossas casas. Mas como fazê-lo em um mundo “online” interconectado?
Bem, vamos nos voltar para um tempo longínquo onde nada disso existia. O salmista Davi era pastor de ovelhas. Ele sabia tanto sobre televisão quanto a maioria de nós sabe a respeito de cuidar de ovelhas. Mas ele fez a oração que todos nós devíamos fazer: “Desvie os meus olhos de olharem para coisas sem valor” (Sl 119.37). Cerca de Mil anos depois, o apóstolo Paulo orientou o jovem Timóteo para fugir do mal, cortando-o pela raiz: “Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor” (2Tm 2.22). Ele sabia que substituir desejos maus pela busca das coisas justas de Deus é a melhor maneira de evitar problemas.
A maioria das pessoas não se importa com as sementes malignas que diuturnamente o inimigo de nossas almas tem semeado em suas mentes e corações. Mas há aqueles que se importam. Graças a Deus tenho seguido algumas orientações bíblicas, que certamente irão ajudar aqueles que querem guardar as suas mentes e corações puros para Deus.
Eu procuro fugir de piadas sobre sexo e maledicências, tampouco me permito a ouvir linguagem vulgar; e também não falo linguajar chulo (1Co 6.18; Ef 5.3,4,12); não permito que as propagandas me façam cobiçar (Ex 20.17; Cl 3.5); evito que meus ouvidos ouçam e meus olhos assistam coisas que têm o potencial de me fazer pecar (Mt 18.9).
Tome cuidado com o que assiste! Mas acima de tudo, cada um de nós deve procurar honrar a Deus com o que assiste.
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv
Samuel Câmara
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