Dança de indecisos na hora da decisão


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A campanha eleitoral chega à reta final, em sua última semana até a votação, e a quantidade de indecisos é considerada ainda muito alta para os padrões nacionais. Uma análise das pesquisas realizadas em 25 capitais aponta, em dez delas, que o grande número de indecisos somado ao de votos brancos e nulos está acima do segundo colocado nas pesquisas. A insatisfação com os rumos da política nacional, o descrédito dos candidatos, a falta de perspectivas e propostas confiáveis são os principais causadores dessa dança de indecisos.

Isso soa paradoxal num ambiente democrático, principalmente quando, neste exato momento, cerca de metade da população do mundo não sabe sequer o que quer dizer escolher através do voto os seus próprios governantes. Isto porque esse instrumento democrático inexiste em não poucas culturas e países. Por esse prisma, podemos nos considerar privilegiados por fazer parte da escolha da vida política da nossa cidade. A razão é que, escolhendo certo ou errado, bem ou mal, vivemos em uma democracia. E na democracia, o povo escolhe soberanamente o seu governante, mas também o retira do poder, a exemplo do recente impeachment da presidente Dilma Rousseff.

No próximo dia 2 de outubro, domingo, são as eleições municipais que ajudarão a decidir os rumos que a nossa cidade seguirá nos próximos quatro anos. Cada eleitor certamente terá de pensar sobre o voto que vai dar, sobre qual candidato escolher.

Talvez você esteja frustrado com a escolha que fez nas últimas eleições. Talvez seja um daqueles que nem se lembra em quem votou. Ou talvez você seja uma das pessoas que ache eleição uma coisa chatíssima. Mas pense! Uma pessoa que comece a votar aos 16 anos e viva até aos 80 anos, poderá votar 17 vezes, no máximo. Quantas coisas na vida você pode fazer para mudar ou melhorar algo e, por fim, acaba desprezando? Isso ajuda a nos mostrar a importância e a urgência que o assunto eleições deve merecer de cada um de nós. Afinal, esta é a festa da democracia.

Abraham Lincoln definiu democracia como “o governo do povo, pelo povo e para o povo”. Assim, o próprio povo escolhe, pelo voto, o seu destino. A maneira como cada eleitor trata o seu voto fornece uma pista segura para sabermos se o mesmo tem consciência política e exerce plenamente o seu direito de cidadão, ou não. A estatura de cada cidadão é medida pela valoração que dá ao seu voto, pelo modo como expressa a sua vontade política nas eleições. Por isso o voto é não somente intransferível e inegociável, mas também precisa refletir a compreensão que o eleitor tem de sua cidade. Em função disso, ele não deve, em hipótese alguma, violar a sua consciência política, principalmente no que diz respeito à sua maneira de ver a realidade social.

Cada eleitor deve discernir se o candidato que pede o seu voto é uma pessoa lúcida e comprometida com as causas da Justiça e da Verdade, e não um oportunista de plantão, que só aparece em época de eleição. Se o eleitor quer ter compromissos éticos na política, deve lembrar-se de que os fins não justificam os meios. Por isso, nunca deve aceitar promessas de qualquer candidato que possam implicar na pros­tituição da sua consciência, mesmo que a “recompensa” propalada seja, aparentemente, muito boa para si ou para a sua comunidade. O eleitor não deve aceitar de forma alguma ganhar os “reinos deste mundo” por quaisquer meios que lhe roubem a glória de ser um cidadão responsável e útil à sociedade com o seu voto.

Devemos ter em mente que o nosso voto é, em suma, um instrumento revolucionário pacífico de transformação social. E quando se fala em revolução, a ideia que permeia a mente das pessoas nada tem de agradável. Ao contrário, pensa-se em revolta, violência, luta armada, sublevação da ordem pública etc. Nisso também concordam os dicionários, cuja definição diz que revolução é a “transformação radical e, por via de regra, violenta, de uma estrutura política, econômica e social”. Por esse critério, não se poderia sequer pensar na possibilidade de uma revolução pacífica, até porque a história mostra o indefectível testemunho de violentas e sangrentas revoluções. Mas, a despeito disso, há, sim, a possibilidade de ser realizada uma revolução pacífica. E essa é uma característica única e essencial de democracias sólidas e estáveis, cuja ação só pode ser realizada por um ato da vontade e da consciência de cada cidadão.

A revolução pacífica de que estamos falando não é para os indecisos, é para os compromissados com a democracia. Quer queiramos admitir ou não, estaremos caminhando para ela, que pode melhorar ou piorar a nossa cidade, dependendo da nossa atitude. Se formos omissos, ajudaremos a piorar a situação; se interessados, diligentes, solidários e participativos, daremos um grande passo para melhorá-la.

Se não dá para mudar tudo uma só vez e não consigamos fazer o bem de modo completo, podemos ao menos tentar evitar que o mal prospere, ao votarmos e elegermos os candidatos sérios e de melhores propostas. Se estes não puderem mudar o que precisa ser mudado, na pior das hipóteses evitarão que pessoas nocivas sejam eleitas e ocupem o lugar que nos é devido, exerçam autoridade sobre nós, persigam a nossa fé e blasfemem contra o nosso Deus.

Quero congratular-me com o Brasil e com você, que vai votar nestas eleições municipais, por este momento ímpar de festa democrática. Em votando conscientemente, cada um de nós mostrará a sua relevância para a nossa cidade e o seu amor por si e pelo povo.

Nesta hora de decisão, deixe a dança dos indecisos e peça sabedoria a Deus para fazer a sua melhor escolha!

Samuel Câmara

Pastor da Assembleia de Deus em Belém

E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv