Há algum tempo, soube de uma pessoa que entrou distraidamente no avião errado. Ela só descobriu o engano depois de ter-se ajeitado confortavelmente no assento, quando o avião estava pronto para a decolagem. Por sorte, teve tempo de sair e embarcar no avião em que devia estar. Mas alguns passageiros já passaram o aperto de ir ao lugar errado, por simples engano de entrar na aeronave errada e ir ao destino errado.
Foi o que ocorreu a Michael Lewis, um estudante na Califórnia. Em 1984, depois de uma visita de três meses à Alemanha, ele estava retornando para sua casa em Oakland. Numa escala em Los Angeles, quando um funcionário da companhia aérea da Nova Zelândia anunciou o embarque para Aukland, Lewis entendeu Oakland e entrou no avião. Depois de já estar voando, ele descobriu o equívoco, mas era tarde demais para o avião retornar. Quando Lewis voltou para os Estados Unidos (nada menos que por cortesia da empresa aérea da Nova Zelândia!), ele explicou que o problema era que os neozelandeses “falavam diferente”. As empresas aéreas, depois de vários incidentes, ampliaram seus sistemas de checagem e orientação de passageiros.
Nós sorrimos por causa do erro de Lewis. Cometer esse engano é embaraçoso, mas errar no que diz respeito à grande viagem de nossa vida, que leva ao destino eterno, não é nada engraçado. A Bíblia fala de pessoas que, no dia do Juízo, pensarão estar “a bordo” rumo ao Céu, só para descobrir que estão chegando ao lugar errado. E foi Jesus quem falou enfaticamente sobre isto, que essas pessoas protestarão: “Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres?” Então Cristo lhes dirá explicitamente: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade” (Mt 7:22,23).
É foi exatamente por isso que o apóstolo Pedro nos instruiu a confirmar o “bilhete” dessa jornada, quando diz: “Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum” (2Pe 1.10).
A vida cristã é como uma viagem com destino ao Céu, ao Pai, onde o único caminho é Jesus, que disse: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). A Bíblia nos encoraja a fazermos o percurso da carreira da fé e perseverarmos até o final, seguindo o exemplo daqueles que correram antes de nós. E a imagem que me vem à mente é o exemplo da jornada do discipulado cristão. O discipulador é alguém que ajuda o discípulo a embarcar corretamente rumo ao seu
Conta uma lenda que, no alto de uma montanha, havia três pequenas árvores que sonhavam sobre o que gostariam de ser quando fossem grandes. A primeira, olhando as estrelas, disse: “Eu queria ser o baú mais precioso do mundo, cheio de tesouros. E até me disporia a ser cortada”. A segunda olhou para os riachos, e suspirou: “Eu quero ser um grande navio e transportar reis e rainhas”. A terceira olhou o vale, e disse: “Eu quero ficar aqui no alto da montanha e crescer tanto que as pessoas, ao olharem para mim, levantem seus olhos e pensem em Deus”.
Muitos anos se passaram e, certo dia, vieram três lenhadores nem um pouco ecológicos e cortaram as três árvores, todas ansiosas em se transformarem naquilo que sonharam…. Que pena! A primeira árvore acabou sendo transformada em um coxo de animais, coberto de ração. A segunda virou um simples e pequeno barco de pesca, carregando pessoas e peixes todos os dias. A terceira, mesmo sonhando em ficar no alto da montanha, acabou cortada em grossas vigas e colocadas de lado em um depósito. E as três árvores se perguntaram desiludidas e tristes: “Por que isto aconteceu conosco?”
Assim como essas árvores, muitos perguntam “por quê?”, querendo sinceramente saber a razão das coisas; e talvez poucas se importem realmente em saber o “para que” das ocorrências de sua vida, sejam elas aparentes tragédias ou desconcertantes situações.
Lembro-me que durante a blitz dos nazistas sobre Londres, em 1940, que o cristão Matthew Sands recebeu um telegrama do Gabinete de Guerra britânico declarando que o filho dele, David, estava desaparecido e considerado morto. Com o coração partido, Sands escreveu no verso do telegrama: “Tudo o que tenho e tudo o que sou, entrego-o a Deus para o Seu serviço”.
Pouco depois de tomar conhecimento da terrível notícia, Sands saiu para cumprir um compromisso importante. A caminho, Sands passou por uma igreja antiga e abandonada e observou uma placa que dizia: “Para venda em leilão”. Entrou na igreja para orar antes de prosseguir, e sentiu-se inspirado a adquiri-la e restaurá-la como casa de culto ao Senhor. Sem que ele o soubesse, outro homem, Andres Jelks, também tinha visto a placa e decidira comprar o prédio para transformá-lo em “Salão de Festas de Andy”.
No dia do leilão, ambos compareceram. Sands havia preparado um documento com um lance formal pela propriedade, mas em seu luto e estado mental confuso, entregou o telegrama do Gabinete da Guerra em lugar do lance. O leiloeiro leu o telegrama em silêncio, bem como a mensagem de Sands consagrando tudo a Deus. Finalmente, quando todos os lances haviam sido apresentados, ele anunciou que a igreja tinha sido vendida para Matthew Sands, que havia apresentado o lance mais alto. Quando perguntaram como, o leiloeiro leu as palavras no verso do telegrama. Os presentes concordaram com a decisão do leiloeiro.
Matthew Sands entendia que Deus pede dedicação total e sabia o alcance exato destas palavras de Jesus: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento” (Lc 10.27). Para ele, isso era bem abrangente, compreendia tudo o que era e tinha. Nada menos era aceitável. Que seja essa, portanto, a natureza da minha e da sua dedicação.
Quanto à história das árvores, assim como a história de Matthew Sands, ela não parou naquele ponto de tragédia. Pois, certa noite, cheia de luz e estrelas, quando parecia haver melodias no ar, uma mulher chamada Maria colocou naquele coxo de animais o seu filho recém-nascido. De repente, a primeira árvore percebeu que continha o maior tesouro do mundo. A segunda, anos depois, veio a transportar um homem que acabou dormindo no barco, e este se levantou e disse ao mar revolto: “Sossegai!” E num relance, a segunda árvore entendeu que estava carregando o Rei dos céus e da terra. Tempos mais tarde, numa sexta-feira, a terceira árvore espantou-se quando suas vigas foram unidas em forma de cruz e um homem foi pregado nela, pois fora condenado à morte, mesmo sendo inocente. Sentiu-se horrível e cruel. Mas no domingo, o mundo vibrou de alegria e a terceira árvore entendeu que pregaram nela um homem para a salvação da humanidade, e que ao olharem para ela, sempre se lembrariam de Deus e de Sua misericórdia em Jesus Cristo.
O moral da história das árvores é que, embora elas tivessem sonhos legítimos, as suas realizações foram muito melhores e mais sábias do que haviam imaginado. O moral da história de Matthew Sands é que não pertencia à tragédia a última palavra em sua vida, e que ele, em Deus, e somente por causa Dele, podia seguir em frente adorando e servindo ao Senhor a despeito de tudo.
Assim também, todos nós temos nossos sonhos e planos. Por vezes, não coincidem com os planos que Deus tem para nós. E quase sempre somos surpreendidos com a generosidade e misericórdia do Senhor em meio às nossas tragédias pessoais. Por isso, é importante compreendermos que tudo o que vem de Deus é bom. Devemos crer que podemos esperar Nele, pois Ele, como um Pai Amoroso, sabe o que é melhor para cada um de nós. Tudo porque Ele realmente nos ama e realmente se importa conosco, se interessa por nós, pelo nosso sucesso, se sofremos ou somos felizes, se ganhamos ou perdemos, se vivemos ou morremos.
A maior prova de que Deus nos ama e realmente se importa conosco é ter nos dado Jesus para a nossa salvação (Jo 3.16).
Deus se importa com você! E você, se importa com Ele, a ponto de sentir-se em paz para consagrar tudo a Ele?
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv