Em que consiste a verdadeira grandeza de uma cidade? Muitos livros de história, tentando responder a esta pergunta, começam por enumerar seus monumentos arquitetônicos. Ou então seus feitos e conquistas militares, ou seus complexos industriais, ou sua criação artística, ou mesmo a pujança de sua economia. Talvez porque isso mostre um pouco da alma desse povo. Mas quando nos damos conta de que tudo isso pode ser destruído por um abalo sísmico, ou varrido por um tsunami, comido por um incêndio ou submerso por um dilúvio, como muitas cidades na historia já o experimentaram, então temos de tirar o foco de coisas e colocá-lo em pessoas. E até mesmo isso, convenhamos, é um exercício difícil de fazer.
Isto porque, durante séculos, o valor das pessoas era medido pelos seus títulos de nobreza, os quais serviam para identificar quem era quem em muitas sociedades. Na maioria das vezes, tinham a ver com a origem da pessoa, seu nascimento numa família de posses e importância política. Mas já vai longe esse tempo, do qual a maioria de nós tem apenas uma vaga noção. Hoje, algumas publicações costumam identificar o valor e a grandeza de uma pessoa, todavia utilizando-se de expedientes que excluem a maioria dos mortais. Posses, posição social, fama e prestígio político continuam na ordem do dia nessa aferição de conceitos. O mundo mudou, mas a questão continua a bater à porta de nossa consciência.
De qualquer modo, a verdadeira grandeza de uma cidade é medida pela grandeza de seu povo. O evangelista Billy Graham disse: “Não se mede a grandeza de uma pessoa pelos títulos ou riqueza que acumulam. A verdadeira grandeza deve ser medida pelo caráter interior da pessoa, ou seja, seus valores espirituais e princípios morais”.
A questão da aferição de quanto vale cada pessoa tem a ver com o que fazemos da vida que levamos, pois é isso que apontará se acumulamos valores morais e espirituais que definirão a nossa grandeza e largueza de alma. Atribui-se ao Barão de Itararé a seguinte frase: “Da vida só se leva a vida que se levou”. Assim, bem no ponto em que cada um de nós está nesse exato momento na vida, é bom fazer um balanço para ver o que realmente sobra da vida que temos vivido. Isso tem a ver com o sentido que estamos procurando encontrar na própria vida.
Fernando Sabino, num poema, disse:
“De tudo, ficaram três coisas: A certeza de que estamos sempre começando. A certeza de que é preciso continuar. E a certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar. Fazer da interrupção um novo caminho; fazer da queda um passo de dança; do medo, uma escada; do sonho, uma ponte; e da procura, um encontro.”
O que então estamos a procurar? Qual o sentido da vida? O que pode nos conferir a verdadeira grandeza às pessoas? O que permite a uma cidade encontrar sua verdadeira grandeza?
A profusão de notícias ruins dos jornais, em geral, nos deixa a sensação de que a cidade está bem ruim, de que as pessoas não prestam, de que não se pode confiar uns nos outros. Esse é o objetivo ignóbil do grito estridente das minorias fora-da-lei, cuja malignidade tem o condão de fazer a maioria silenciosa pensar pequeno e descompassado, como se nada mais valesse a pena. Mas a cidade não é feita por essa minoria destrutiva, antes a alma da cidade é o compasso dos bons, é o extrato da virtude de uma maioria que faz valer a pena continuar trabalhando, continuar produzindo, continuar dando o melhor de si para que todos tenham o quinhão da bênção de viver bem em sua cidade.
E a boa alma de Belém nos indica que é preciso viver a vida, aqui e agora, de uma maneira digna e produtiva, cujos valores morais e espirituais devem sobrepujar em muito a banalização da maldade e a mesquinhez da aferição que títulos, posses, fama e qualquer outra coisa. A grandeza de Belém está em seu povo ordeiro, em seu povo trabalhador, em seu povo que crê em Deus, em seu povo que acredita que o melhor ainda está por vir, e que vale a pena deixar um futuro melhor para as gerações seguintes.
A cidade de Belém começou em 12 de janeiro de 1616 com a vocação de ser uma fortaleza. OCapitão-mor Francisco Caldeira Castelo Branco deixou a capital do Maranhão durante o Natal, sendo essa a razão apontada pelos historiadores de ele chamar a nova cidade de Belém, numa ligação com sua antiga “xará” Belém da Judeia, onde nasceu o Senhor Jesus Cristo.
Desse modo, Belém precisa continuar a sua vocação de ser uma fortaleza contra o mal, contra a injustiça, contra o preconceito, contra a maldade que afronta a dignidade das crianças e das mulheres, contra a impunidade, contra a corrupção, contra todo tipo de malignidade. Mas não somente isso. É preciso ser a favor da vida, da verdade, da justiça, do amor e do respeito pelos diferentes, pelo cuidado com os pobres, pela dignidade e respeito das pessoas, pela honra da lei e da ordem, pelo direto à liberdade.
Belém tem jeito! Mas convém que o povo pense direito! Porque é o conjunto da virtude de seu povo que confere a verdadeira grandeza à cidade de Belém.
Feliz Belém, parabéns pelos seus 401 anos!
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
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