Todo mundo sabe o que é um remédio. Por definição, remédio é uma substância ou recurso utilizado para combater uma dor, uma doença, facilitando sua cura. Em termos figurados, é aquilo que serve para aplacar sofrimentos morais, para atenuar os males da vida. Já o placebo parece remédio, mas não é. Por definição, placebo é toda e qualquer substância sem propriedades farmacológicas, administrada a pessoas ou grupo de pessoas como se tivesse propriedades terapêuticas. A palavra placebo vem do Latim “placere”, que significa “agradar”. Os placebos são pílulas cujo aspecto é idêntico ao de outra farmacologicamente ativa, mas com material inócuo, como açúcar, farinha de trigo etc.
Estudos comprovaram que às vezes placebos podem realmente aliviar sintomas, se a pessoa doente acredita que são um medicamento efetivo. Algumas pesquisas mostraram que muitas pessoas os consideraram úteis, mesmo depois de descobrirem que os comprimidos administrados no tratamento eram simplesmente placebos.
Algumas mães, ao perceberem que seus filhos estão apenas com manha e querendo chamar sua atenção, mas choram como se estivessem doentes, utilizam a técnica de ministrarem o “santo remédio” de uma bolinha de pão como se fosse medicamento, e eles rapidamente se acalmam. Alguns médicos utilizam o mesmo princípio com hipocondríacos, que saem dos consultórios felizes da vida por terem atingido a “glória” de tomarem “mais um” remédio.
O princípio do placebo ilustra uma incômoda verdade, que uma crença pode ser temporariamente efetiva, mesmo quando fundamentada em algo que não é verdadeiro. Isso me leva a pensar nas assombrosas implicações desse princípio na fé religiosa. Do mesmo modo que placebos podem proporcionar algum alívio temporário, crenças erradas sobre Deus podem resultar em falsos sentimentos de paz e alegria.
Nesse sentido, há muitos placebos sendo administrados livremente como se fossem remédios para a dor da separação de Deus, como se fossem medicamentos contra a aflição causada pelo pecado. Quando isso ocorre, as pessoas podem não sentir a real necessidade de confiarem no sacrifício de Jesus Cristo, o único “remédio” para as doenças e dores humanas. Deixam de confiar no Salvador para confiarem em placebos da vã religiosidade.
Saulo de Tarso era um jovem que tinha tomados alguns placebos religiosos, que ele chamou depois de “confiar na carne”. Ele dizia: “Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível” (Fp 3.4-7).
Isso tudo era placebo. Quando, porém, Paulo teve um encontro com Cristo, foi salvo e transformado pelo Evangelho, que é “o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16). Ele, então, considerou tudo aquilo de que se gabava como “perda”, para poder ganhar a Cristo. No original Grego, a palavra usada por Paulo é “lixo”, um descarte de algo imprestável. Em termos contábeis, seria como colocar todos os ativos como prejuízo irrecuperável. Esse era o contraponto do valor da excelência que Paulo dava ao “remédio” de confiar em Cristo em contraposição ao “placebo” de confiar em si mesmo.
Jesus contou a história de um fariseu que havia engolido placebos de ideias a respeito de si mesmo que o faziam sentir-se mais perto de Deus. Ele se postava em pé num canto de praça e ficava a orar bem alto, demonstrando um falso senso de bem-estar, confiança e alegria. Ele se exaltava diante de Deus, mas, apesar disso, sua real condição espiritual era bastante precária. Em contrapartida, um infeliz publicano, no outro lado da praça, batia no peito e exclamava o quanto era um pecador perdido, suplicando pela misericórdia de Deus na sua vida.
O resultado é que o fariseu saiu de lá tão pecador como antes, porque se servia de um placebo religioso; mas o publicano saiu justificado para sua casa, porque resolveu recorrer ao remédio que funciona (Lc 18.9-14). A parábola ilustra que os placebos sobre como achegar-se a Deus, ou se livrar do pecado, ou sentir uma relativa paz interior, podem até funcionar por um tempo, mas, por fim, são mera ilusão e vão mostrar a real situação espiritual da pessoa.
Na verdade, o único modo de chegar a Deus é através de Jesus Cristo, que disse. “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Ninguém precisa de placebos religiosos, precisa do remédio da fé em Cristo. Só Jesus “pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus” (Hb 7.25).
E por que tudo o mais é placebo, mas só Jesus tem o efetivo remédio contra o pecado? Por causa da obra que Ele realizou na cruz do Calvário: “Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si… Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.4-6).
Na cruz, Jesus bradou: “Está consumado!” (Jo 19.30). Isso quer dizer que tudo o que precisava ser feito para a nossa eterna salvação já foi feito. “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões” (2Co 5.19). Esse era o único “remédio de Deus” para o mal do pecado no mundo. Isso mostra também que ninguém precisa de placebos religiosos, basta a pessoa se arrepender de seus pecados, confiar em Jesus e entregar a sua vida a Ele.
Cristo convida: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Isso é cura, que só o remédio de Deus pode efetuar. E essa é a diferença que conta para a vida eterna!
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv