A busca por heróis é uma característica humana que pode ser entendida a partir da necessidade de se ter referenciais de excelência. Por isso, elegemos nossos heróis, os tornamos ícones que evocam fortemente certas qualidades que apreciamos, ou mesmo que desejaríamos ter.
De que, então, são feitos os heróis? Por definição, herói é “alguém extraordinário por seus feitos, por seu valor ou sua magnanimidade”. Contudo, o que mais impressiona nessa busca incontida por heróis é que, em geral, se louva mais o estereótipo, não a tessitura moral que possuem. São heróis para o gasto, ícones de consumo, que vêm e vão, celebridades que aparecem e desaparecem com a mesma rapidez.
Na esteira da turbulenta contracultura dos anos 60, a “juventude transviada” elegeu roqueiros como heróis, muitos dos quais sucumbiram às drogas. Os estereotipados heróis de antigamente incomodavam, questionavam o status quo, poetizavam e musicavam a virulência de seus protestos. Os supostos heróis de hoje são mais “comportados”, não questionam nada; apenas ostentam o seu sucesso pessoal, e isso parece bastar.
Como “cada cabeça tem uma sentença”, e também se diz que “gosto e nariz cada um tem o seu”, há heróis para todos os gostos e desgostos. As escolhas “infantis” vão desde Batman, que não tem poder algum, até ao Professor Xavier dos X-Man que, muito embora numa cadeira de rodas, tem o poder de controlar a mente de todos os super-heróis. No mundo real, alguns escolhem Hitler; uns, Stalin; e outros, algum ente político não muito “genuíno”. Há dois milênios, o povo judeu escolheu o bandido Barrabás.
Até mesmo as sociedades mais primitivas escolhem seus heróis, cujos motivos, erradamente ou não, são apoiados em sólidas bases culturais. Por exemplo, na Nova Guiné, povo Sawi praticava o canibalismo, cuja expressão maior era a “caça de cabeças”. Para tanto, eles ardilosamente conseguiam manter uma ilusão de amizade durante meses com alguém de outra tribo. Depois que engodavam sua vítima com amizade, a traíam e matavam. Era alçado à posição de maior destaque no panteão de heróis quem mais conseguia tal façanha.
Em 1962, Don Richardson foi pregar o Evangelho a esse povo. Suas primeiras tentativas de transmitir a mensagem de Deus aos sawis foram frustradas devido à admiração deles pelos “mestres da traição”. Ao ouvirem pregar que Judas Iscariotes traíra Jesus, o Filho de Deus, eles consideraram Judas como o verdadeiro herói da história. Jesus, aos seus olhos, não passava de um enganado e desprezível objeto de riso.
Foi então que Don descobriu que os sawis tinham um método singular de fazer a paz e evitar surtos de traição. Tribos diferentes trocavam entre si uma criança recém-nascida, chamada de “Criança da Paz”, para criar. Enquanto a criança permanecesse viva, não só as antigas diferenças eram canceladas, como também prevenidas futuras ocasiões de perfídia.
Don descobriu também que, alguns anos antes, uma tribo tinha oferecido a sua criança, mas a outra tribo não fizera o mesmo, matando a criança que lhe fora entregue. Essa era a chave para a comunicação do Evangelho. Don Richardson leu a Bíblia para eles: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”. E também: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. (Is 9.6; Jo 3.16)
Assim, Don apresentou Jesus Cristo ao povo Sawi como o derradeiro “Filho da Paz”, enviado por Deus para reconciliá-los consigo mesmo. Uma vez compreendido que Judas havia traído uma Criança da Paz, não mais o consideraram herói. Na sua cultura, essa traição era o mais hediondo dos crimes. Depois disso, Jesus se tornou o Herói para mais de dois terços dos sawis.
Ora, se é preciso eleger heróis, quem é o seu herói favorito? Há alguns anos, essa pergunta foi feita por psicólogos pela Internet a quase três mil jovens ingleses. O jogador David Beckham foi o campeão de votos, seguido pelo ator americano Brad Pitt. Jesus Cristo recebeu pouquíssimas citações e ficou em 123° lugar.
De que modo os jovens ingleses pesquisados poderiam escolher Jesus como seu herói, se não o conhecem, não leem a Bíblia, nem mesmo frequentam igrejas? Contudo, eles conheciam David Beckham, que nasceu pobre e venceu na vida.
Não seguirei o exemplo dos sofisticados jovens ingleses. Prefiro seguir o último exemplo dos primitivos sawis. Tão somente porque Jesus fez o mais extraordinário dos feitos: a salvação eterna! Ele tem o maior valor: é Homem perfeito, Santo e Salvador! E a sua magnanimidade está estendida a todos, para perdoar pecados e salvar.
Por isso, eu só tenho um referencial seguro na vida, que não é só meu Herói, é também meu Senhor e Deus. Jesus é o Herói da História, pois “Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome” (Fp 2.9). Um dia todo joelho se dobrará diante Dele, quando “toda língua confessará que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai”. Neste Herói você pode confiar!
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv