Filha Centenária da Assembleia de Deus


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A Assembleia de Deus em Belém, no Pará e no Brasil, comemorou recentemente seus 103 Anos de Avivamento Missionário. E agora, a sua primeira filha fora do Pará, a Assembleia de Deus no Ceará, também comemora o seu Centenário, o que representa um marco de extraordinários feitos, os quais glorificam a Deus e enobrecem a nossa Igreja no Brasil e no mundo.
Seguindo o exemplo de Daniel Berg e Gunnar Vingren, e mais 18 valorosos irmãos e irmãs, em 18 de junho de 1911 foram lançadas as bases desse movimento pentecostal, cujas raízes se estenderiam por todo o Brasil, abrigando atualmente cerca de trinta milhões de assembleianos. O que levou esses abnegados e destemidos missionários a levarem a mensagem pentecostal a todos os rincões do nosso imenso País? Não foi a busca de prestígio ou reconhecimento, tampouco promessas de algum ganho financeiro ou distinção social. Tudo o que se tinha naquela época eram perseguições insanas e injustificáveis, movidas na maioria das vezes por puro preconceito religioso.
A saga assembleiana espelha a ação decidida de pessoas inspiradas no amor de Jesus e movidas pelo poder do Espírito Santo, como a que ocorreu na pequena cidade de Quatipuru, próximo a Bragança, narrada pelo pioneiro Daniel Berg:
“Assim que terminaram de cantar o último hino, o chefe de polícia foi à frente, pediu silêncio e ordenou aos presentes que permanecessem em seus lugares, onde iam formar filas, e dirigirem-se à delegacia de polícia. Daniel Berg perguntou de que exatamente estavam sendo acusados, mas disseram-lhe que somente ficariam sabendo na delegacia. Logo uma longa fila de crentes era vista marchando pelas ruas rumo à delegacia. Iam cantando louvores a Deus de modo que, por onde passavam, apareciam pessoas atônitas nas janelas e outras pessoas acompanhavam à distância para saber o que estava acontecendo.”
“A delegacia encheu-se de irmãos orando e cantando. O maravilhoso culto que havia sido realizado na Igreja teve sua continuidade na delegacia, alguns irmãos foram até batizados com o Espírito Santo. Ao serem perguntados se estavam com fome, cansados ou com sono, um dos irmãos falou: ‘Nós não temos fome, estamos cheios do Espírito Santo’. Os crentes pregaram a palavra ao carcereiro com intrepidez e uma das irmãs perguntou-lhe: ‘O senhor sabe a quem está perseguindo? Você está perseguindo a Jesus de Nazaré. Ele é poderoso e há de nos tirar daqui’.”
“O coronel Leandro ordenou ao chefe de polícia que os encaminhassem ao cemitério da cidade, onde receberiam novas instruções. A intenção era assustá-los. As mães abraçavam seus filhos mais perto de si, mas logo alguém do grupo ergueu o braço e, com o dedo apontado para o céu, começou a cantar um hino, ao que todos o acompanharam, marchando em direção ao cemitério. Durante o percurso, o caminho encheu-se de curiosos, atraídos pelas músicas. Os guardas que os acompanhavam jamais tinham escoltados presos tão alegres e confiantes. Parecia até que estavam servindo de guarda de honra para aquela feliz multidão.”
“Ao chegarem ao cemitério, o chefe de polícia levantou a voz para informar que o juiz havia decidido que a pena para aquela ocorrência (ser crente e cultuar a Deus) seria a execução de trabalhos forçados. O cemitério deveria ser livre de todas as ervas, capinado e regado. O chefe de polícia teve muita dificuldade para se fazer ouvir, mas os que se encontravam mais próximos lançaram mão das ferramentas que estavam à disposição e começaram logo a trabalhar. Os demais seguiram o exemplo, começando pelos túmulos dos seus familiares, os quais durante muito tempo estavam esquecidos e cheios de mato. Depois de várias horas de trabalho, debaixo de sol forte e sem nenhum alimento, bebida ou descanso, o cemitério estava bem cuidado, a pena paga e a missão cumprida! Os vitoriosos partiram para suas casas, cantando e louvando a Deus pelo livramento.” (Enviado por Deus, Pg. 149).
Trago à memoria este fato por duas razões: primeiro, que Quatipuru tem a ver com o Ceará na medida em que, vencida aquela luta, nada poderia parar a expansão pentecostal. Segundo, para ilustrar o que a irmã Maria de Nazaré de Araújo tinha em mente como exemplo do que poderia lhe acontecer ao decidir levar a mensagem pentecostal ao Ceará. Mas isso não a deteve.
Assim, movida pelo Espírito Santo, irmã Nazaré desembarcou em Fortaleza, em junho de 1914, seguindo viagem para a Serra de Uruburetama, no Ceará. Seu propósito inicial era evangelizar os seus familiares, mas a chama pentecostal se alastrou de forma maravilhosa e, desse modo, foi iniciada uma grande obra que alcança agora o seu Centenário. Naqueles dias, ela enviou um telegrama à Igreja-Mãe relatando como Deus estava operando nos sertões do Ceará, salvando vidas e batizando com o Espírito Santo. Em seguida, o Pastor Gunnar Vingren enviou o Evangelista Adriano Nobre, cearense de nascimento, que desembarcou no porto de Camocim e seguiu a pé durante seis dias, chegando à localidade da Fazenda Lagoinha (atualmente Itapagé) para oficializar a fundação da Assembleia de Deus no Estado do Ceará. A pioneira irmã Nazaré permaneceu ainda seis meses pregando a mensagem pentecostal naquelas terras, não sem experimentar perseguições e muitas lutas que os inimigos da obra engendravam.
Os nossos efusivos parabéns à Assembleia de Deus no Ceará, filha querida da Igreja-Mãe, pelo seu Centenário!

Samuel Câmara

Pastor da Assembleia de Deus em Belém

E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv