Como melhorar uma obra-prima? Imagine-se estando em Milão, especificamente no refeitório do Convento de Santa Maria Delle Grazie, onde se encontra o esplêndido quadro A Última Ceia, de Leonardo Da Vince, inspirado em um momento peculiar do Evangelho de João, quando Jesus anuncia que seria traído por um dos discípulos. Como melhorar essa obra-prima?
Essa questão ocupava a mente de Leonardo Da Vince, nos três anos de dedicação integral que tomou para pintá-la. O prior do convento não se conformava em ver Da Vinci parado na frente da obra, observando-a durante tanto tempo. Em resposta às críticas do prior, o pintor afirmou: “Os homens de gênio às vezes produzem mais quando menos trabalham, pois esta é a hora em que elaboram invenções e formam em suas mentes as ideias perfeitas que depois expressam e reproduzem com as mãos”. Ele queria simplesmente a perfeição: produzir uma obra-prima. Como melhorá-la depois disso?
Agora, imagine-se no Museu de Louvre, em Paris, contemplando Mona Lisa, conhecida como La Gioconda, “a sorridente”, de Leonardo Da Vince. Como melhorar essa obra-prima? Então passa pela sua cabeça pegar paleta e pincéis para acrescentar um pouco mais de cor ao rosto, ou mudar um pouquinho o nariz e, por fim, alterar definitivamente aquele sorriso enigmático de quinhentos anos. Seu pensamento seguinte talvez seria: Isso é ridículo, absurdo! Como melhorar uma obra-prima?
Todavia, é exatamente isso que muitas pessoas tentam fazer com duas obras-primas de Deus na terra. A primeira, já concluída; a segunda, ainda em andamento. A primeira é a obra-prima da Salvação que Jesus Cristo realizou no Calvário. Não são poucos os que acham que podem melhorá-la com alguns trabalhos seus, ou com alguns vernizes religiosos. Esquecem que o próprio Jesus, ao concluir seu sacrifício vicário, bradou: “Está consumado!” (Jo 19.30). A prova definitiva que sua obra-prima de Redenção ficou pronta é a Sua ressurreição dentre os mortos: “Estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos” (Ap 1.18).
A segunda obra-prima de Deus é operar em todos os Seus filhos e filhas o aperfeiçoamento para o desempenho do Seu serviço, “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.11-13).
Leva tempo para uma obra-prima ser consumada. Isso também pode ser aplicado a cada servo de Deus. Embora tenhamos sido perdoados de todos os nossos pecados e “salvos pela graça”, quando se trata da semelhança com Cristo em nosso dia-a-dia, isso é algo que tem de ser trabalhado e trabalhado continuamente, até que Jesus venha e nos leve para estar definitivamente com Ele.
Todos nós sabemos que a semente não se transforma em árvore em um dia. Há sempre um tempo considerável entre o plantar e o colher. Igualmente, não é um toque do pincel do artista que produz um retrato acabado. Do mesmo modo, como filhos de Deus, temos de crescer “em tudo até alcançarmos a estatura espiritual de Cristo”. E isso leva algum tempo. E só Deus, o Supremo Artista, pode operar isto em nós. É a Sua graça, não o mero esforço humano, que nos leva cada dia ao aperfeiçoamento e à semelhança de Cristo.
Desse modo, temos o desafio constante de não deixarmos que contratempos, erros, provações, ou qualquer outra coisa, nos desanimem ou nos tornem imprestáveis. Precisamos ter sempre em mente que estamos sendo “modelados” pelas mãos do Artista-Mor do universo, o Supremo Oleiro: “Mas agora, ó Senhor, tu és nosso Pai, nós somos o barro, e tu, o nossooleiro; e todos nós, obra das tuas mãos” (Is 64.8).
Somos manufatura de Deus, moldados segundo a Sua vontade. Às vezes, Ele nos coloca em situações de prova que nos farão crescer. Somos colocados no “cadinho das aflições”, para que a nossa fé seja “apurada pelo fogo”. Somos provados continuamente na forma de “várias tribulações” destinadas a refinar a nossa fé, até que aprendamos a ser “mais que vencedores” (1Pe 1.6-7; Rm 8.28-37).
Diz-se que as cores pintadas na porcelana chinesa são queimadas na argila, caso contrário elas facilmente se desbotariam. O dourado na peça finalizada é um líquido escuro antes de passar pelo fogo. As primeiras duas ou três aplicações de calor removem todo traço de cor, que precisa ser retocada várias vezes. Depois de um longo e repetido processo, quando a obra é finalizada, fica bonita e resistente.
Quando estamos sendo provados, ao mesmo tempo Deus está trabalhando em nossa vida a formação do caráter de Cristo. Assim, quando na fornalha da aflição, “depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar” (1Pe 5.10). A obra sagrada do Oleiro é fazer com que, através do fogo das provações, a beleza de Seu caráter seja permanentemente fixada em nós.
Deus está construindo em cada um de Seus filhos e filhas uma obra de arte única e inigualável, uma obra-prima eterna que, uma vez concluída, não poderá ser melhorada, porque será segundo a perfeição de Cristo.
Você certamente não se deixaria cair na tentação de alterar as obras-primas de Leonardo Da Vince. Também não deve cair na tentação de querer melhorar a obra-prima de Jesus Cristo: a eterna Salvação! A obra já foi feita, você só precisa contemplá-la pela fé e receber os seus benefícios.
A partir de então, como filho ou filha de Deus, deixar que o Supremo Artista construa em sua vida uma obra-prima com a qual Ele e você se alegrarão eternamente.
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv