As marcas do amor


pr_samuel

O apóstolo Paulo, em sua carta à Igreja de Corinto, na Grécia, escreveu uma das mais elevadas definições do amor em todos os tempos, quando disse: “O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Co 13.4-7).
Por causa do amor de Jesus, Paulo sacrificou toda a sua vida no altar desse amor incondicional, que se entrega todo, mesmo tendo de sofrer as mais diversas intolerâncias e perseguições, que lhe deixaram indeléveis no corpo o que ele posteriormente chamou de “as marcas que Jesus” (Gl 6.17). Quando vivemos esse amor, também descobrimos paulatinamente que o amor deixa marcas.
A esse propósito, lembro-me da história de um menino que trazia no rosto uma horrível cicatriz. De tão feia, as pessoas do colégio não falavam com ele e nem sentavam ao seu lado; na realidade, quando o viam, de horrorizados, franziam a testa. Era tal o incômodo que a turma se reuniu com o professor e os alunos solicitaram que o menino da cicatriz não frequentasse mais o colégio. O professor acabou levando o caso à diretoria do colégio. A diretoria chegou à conclusão de que não poderia tirar o menino do colégio, mas que conversaria com ele para que se sentasse no fundo da sala, de modo que nenhum aluno visse o seu rosto, a não ser que olhasse para trás.
O professor achou magnífica a ideia da diretoria, pois sabia que os alunos não olhariam mais para trás. Levada ao conhecimento do menino a decisão, ele prontamente aceitou a imposição do colégio, mas com uma condição: que ele se apresentasse diante da classe para dizer o porquê daquela cicatriz.
Com a concordância da turma, no dia marcado o menino entrou na sala, postou-se à frente dos alunos e começou a relatar sua história: “Sabe, turma eu entendo vocês, na realidade esta cicatriz é muito feia, mas foi assim que eu a adquiri: Minha mãe era muito pobre e, para ajudar nas despesas de casa, ela passava roupa para fora. Nessa época eu tinha cerca de 7 anos de idade”.
A turma estava em silencio e atenta a tudo. O menino continuou: “Eu tinha mais três irmãozinhos: um de 4 anos, outro de 2 anos e uma irmãzinha com apenas alguns dias de vida. Foi então que, não sei como, a nossa casa, que era muito simples e feita de madeira, começou a pegar fogo. Minha mãe correu até o quarto em que estávamos, pegou meu irmãozinho de 2 anos no colo, eu e meu outro irmão pelas mãos e nos levou para fora. Havia muita fumaça; as paredes, que eram de madeira, pegavam fogo e estava muito quentes. Então, minha mãe colocou-me sentado no chão do lado de fora e disse-me para ficar cuidando dos meus irmãos até ela voltar, pois teria de retornar à casa em chamas para pegar minha irmãzinha que continuava lá dentro. Quando minha mãe tentou entrar na casa queimando, as pessoas não a deixaram entrar para buscar minha irmãzinha. Eu ouvia minha mãe gritar desesperadamente: “Minha filhinha está lá dentro!”. Vi no rosto de minha mãe o desespero, o horror, e ela gritava muito, mas aquelas pessoas não a deixaram buscar minha irmãzinha”. A classe permanecia solenemente em silêncio.
“Foi aí que decidi fazer alguma coisa. Peguei meu irmão de 2 anos, que estava em meu colo, e o coloquei no colo do meu irmãozinho de 4 anos, e disse-lhe que não saísse dali até eu voltar. Saí de entre as pessoas, sem ser notado e, quando perceberam, eu já tinha entrado na casa. Havia muita fumaça, estava muito quente, mas eu tinha que pegar minha irmãzinha. Eu sabia onde ficava o quarto em que ela estava. Quando cheguei lá, ela estava enrolada em um lençol e chorava muito. Neste momento, vi caindo alguma coisa; então, joguei-me em cima dela para protegê-la, e aquela coisa quente feriu o meu rosto”.
A turma estava respeitosamente quieta, atenta ao menino e já se sentindo envergonhada. Então o menino continuou: “Vocês podem achar esta cicatriz feia, mas tem alguém lá em casa que a acha muito linda. E todos os dias, quando volto para casa, a minha irmãzinha me dá um belo beijo no rosto, porque ela sabe que a minha cicatriz é marca de amor”. Lágrimas escorriam nos rostos dos alunos, que não sabiam o que dizer ou fazer, mas o menino foi para o fundo da classe e sentou-se quieto.
Volto à declaração de Paulo, de que trazia em seu corpo as marcas de Jesus. E que marcas eram essas? Eram todas as marcas que, por amor, ele também havia sofrido. As marcas de Jesus eram as lacerações das chicotadas, os cortes e hematomas dos socos e pontapés e pedradas, o furo da lança, os furos da coroa de espinhos, as cicatrizes dos pregos. Eram as marcas do seu amor incondicional que o levou a morrer por nós e a pagar o preço da eterna salvação.
De certa forma, essas cicatrizes eram nossas, mas Ele se colocou entre nós e as chamas do juízo divino, entre nós e a perdição eterna, entre nós e o fogo da maldição do pecado, e então Ele nos protegeu, morreu por nós, para que possamos herdar a vida eterna.
É por isso que eu não me envergonho do Evangelho de Jesus Cristo, nem das suas cicatrizes, pois é nessa mensagem do Seu amor absoluto que reside o poder para a salvação de todo aquele que crê.

Samuel Câmara

Pastor da Assembleia de Deus em Belém

E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv