Se algum dia você tiver um tempinho, pare e observe uma gota d’água. Sim, uma pequena gota d’água teimosamente se equilibrando na ponta de um frágil ramo. Uma gotícula desafiando a lei da gravidade, enquanto se balança nas bordas de uma folha ou numa pétala de flor. Talvez você pense: É apenas uma gota, que diferença isso faz?
Há cerca de quinze anos, uma gota foi o que motivou uma equipe de publicitários a criar uma campanha contra a corrupção na cidade de Hong Kong. Eles invadiram a cidade com pôsteres que mostravam uma única gota caindo em uma piscina, trazendo uma frase: “Hong Kong contra a corrupção”. A mensagem da campanha era que a integridade ou a desonestidade permeia a cidade em cada pessoa. Em outras palavras, é fácil se comprometer com pequenas coisas porque elas parecem não fazer diferença numa sociedade de grandes dimensões.
Parece estranho que a indignação que, vez por outra, toma conta da sociedade brasileira em decorrência da constante e endêmica corrupção na esfera pública, logo arrefeça e vá paulatinamente diminuindo. A decepção, que deveria ser cada vez maior, aparece cada vez menos. Será que a sociedade está sendo permeada pela desonestidade?
Sempre temos algum sinal de que nem tudo está perdido. Há sempre uma diferença que uma gota pode fazer, quando cada pessoa que anseia por mudança, que deseja ardentemente por justiça, que luta pelo direito de construir uma sociedade saudável, que expresse desaprovação moral por comportamentos socialmente perniciosos, que embora se sinta apenas “uma gota”, sabe que pode contribuir para estabelecer uma sociedade virtuosa. Mas como construir uma sociedade virtuosa? Uma sociedade que prima pela virtude só pode ser criada por pessoas virtuosas, cujas consciências individuais preservam o comportamento e o mantém responsável.
Sem a consciência da virtude, uma sociedade só pode ter um relativo controle se usar a coerção em larga escala. Mas até mesmo a coerção falha, em última instância, pois nunca haverá força policial suficiente para manter os olhos em cada indivíduo. Assim, se somos uma sociedade com cerca de 200 milhões de pessoas, cada uma deveria, em tese, ser uma consciência em guarda. Como geralmente não procedemos assim, não somente temos mais crimes como precisamos sempre de mais policiais nas ruas.
Infelizmente, fala-se muito em justiça social sem levar em conta a virtude particular, o que é errôneo e perigoso. Torna-se inevitável que um povo sem moralidade pessoal falhe em seus esforços de criar moralidade pública. Alguém disse que “não há pecado social sem pecado pessoal”. A desconexão entre os âmbitos público e particular tem a sua raiz no mito iluminista de que o ser humano é essencialmente bom. Numa sociedade em que nenhum estigma moral é permitido, por medo de prejudicar a autoestima de alguém, não é de estranhar que muitos falem superficialmente: “O que o político faz da sua vida particular não importa”. Ou: “Rouba, mas faz”. Ou ainda: “Não importa o que EU faço em minha vida particular”.
Como racionalizar que uma pessoa possa comportar-se como velhaco, mentiroso ou fraudulento na vida particular e, ainda assim, devamos confiar em sua vida pública?
A base da visão cristã sobre a natureza humana, ensinada por Jesus, é que uma árvore boa produz bons frutos e uma árvore má produz maus frutos. Jesus também disse: “Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; quem é injusto no pouco também é injusto no muito” (Lc 16.10). Em suma, integridade é uma questão de caráter que passa por grandes e pequenas questões, por ações públicas e particulares, e quem falhar nas menores falhará também nas maiores.
Ora, se é fácil se comprometer com pequenas coisas porque elas parecem não fazer diferença numa sociedade de grandes dimensões, alguém pode pensar: “Por que não alterar a verdade, não maquiar os relatórios de despesas, não utilizar o horário de trabalho para coisas pessoais? Por que não, se todo mundo faz? Ora, sou apenas uma gota!”
Na verdade, nem todo mundo faz, talvez só uma minoria de aproveitadores. Talvez a maioria esteja calada e impassível, porque cada pessoa pode estar pensando que é apenas “uma gota”. Como disse Edmund Burke: “Ninguém comete erro maior do que não fazer nada porque só pode fazer um pouco. Para que o mal triunfe só é preciso que os bons não façam nada”.
Precisamos, sim, continuar nutrindo um firme sentimento do que é certo e errado, segundo os padrões morais bíblicos, aliado a uma inabalável determinação para colocar adequadamente em ordem a nossa própria vida. A partir daí, poderemos pensar em mudar a sociedade.
Os jovens da Assembleia de Deus em Belém, neste final de semana, estão reunidos em um Congresso, cujo tema evoca a Aliança eterna com Deus realizada através de Jesus. É essa aliança inquebrantável que permite aos jovens permanecerem fiéis em um mundo caído, mesmo que pareçam apenas gotas no oceano. É essa aliança que faz os jovens serem diferentes e fazerem diferença.
Cada jovem pode parecer apenas “uma gota”, assim como eu. Se todos nos juntarmos, formaremos um filete de água, depois um córrego, que mais à frente poderá se transformar numa torrente que, finalmente, poderá lavar a alma da nossa nação!
Decida você também. Seja “uma gota” que faz a diferença!
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv