Alguma pessoas tratam a fé como um espetáculo religioso, uma grande performance que justifique a ida a um culto ou missa, a uma campanha “de fé”, a uma procissão etc., como se fora um indispensável ponto de contato com o divino. Dá-se mais valor e atenção à liturgia da representação do que propriamente ao exercício da fé com simplicidade. Isso, todavia, não é um fato novo.
Havia um general comandante do exército do rei da Síria, chamado Naamã, que era poderoso, mas tinha um grande problema: era leproso. Ele tinha pouco tempo de vida e seu prestígio estava minguando. Nisso, uma menina, sua criada, lhe apresentou a mensagem de que havia em Israel um profeta de Deus que podia curá-lo. Ele juntou presentes finos e muito dinheiro, e partiu ao encontro do profeta Eliseu. A mensagem que o profeta lhe deu foi simples: “Vai, lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne será restaurada, e ficarás limpo”.
Naamã ficou indignado, e reclamou: “Pensava eu que ele sairia a ter comigo, por-se-ia de pé, invocaria o nome do Senhor, seu Deus, moveria a mão sobre o lugar da lepra e restauraria o leproso”. Nisso, os seus oficiais lhe disseram: “Meu pai, se te houvesse dito o profeta alguma coisa difícil, acaso, não a farias? Quanto mais, já que apenas te disse: Lava-te e ficarás limpo”. Então, Naamã fez o que lhe dissera o profeta de Deus e ficou totalmente curado. Depois disso, ele afirmou: “Reconheço que em toda a terra não há Deus, senão em Israel” (2Re 5.1-15).
Moral da história: enquanto o profeta de Deus queria que Naamã exercesse a simplicidade da fé, este queria espetáculo. Mas foi só depois de fazer “consoante a palavra do homem de Deus” que Naamã recebeu a sua bênção.
É assim com o Evangelho de Jesus Cristo: sua mensagem é simples e descomplicada, cuja linguagem é compreensível até mesmo às crianças. A resposta óbvia que a mensagem do Evangelho exige de cada pessoa deve ser imbuída de uma fé igualmente simples, mas não simplista. A experiência nos ensina, porém, que muitos não conseguem entender que as exigências esdrúxulas e mirabolantes, muitas vezes apresentadas como “mensagens evangélicas”, nada têm a ver com o verdadeiro Evangelho.
Se o Evangelho fosse complicado, talvez fosse mais palatável aos capacitados a enfrentar difíceis desafios pessoais. Se dependesse de grandes exercícios intelectuais, talvez fosse considerado suficientemente culto para os que se gloriam no próprio saber. Se dependesse de investimento financeiro e pudesse ser comparado a uma apólice, talvez os ricos estivessem dispostos a pagar grandes somas para conseguir suas bênçãos.
A fé evangélica, ou decorrente da essência do Evangelho de Jesus Cristo, deve levar cada pessoa primeiramente à verdadeira adoração a Deus. Tudo o mais decorre disso. O ser humano é essencialmente uma criatura de adoração, porque esta é parte da sua natureza. Sua escolha não é onde ou quando vai adorar, mas a quem vai adorar. E só Deus é digno da verdadeira adoração na simplicidade da fé evangélica.
Essa questão da adoração verdadeira entrou na conversa de Jesus com uma mulher samaritana junto ao poço de Jacó. Depois de falar da água da vida e dar uma nova esperança àquela mulher, ouve dela uma indagação sobre a verdadeira adoração. Sua dúvida era quanto ao lugar onde Deus deveria ser adorado, se em Jerusalém ou em Samaria.
Nesse ponto, depois de afirmar que o lugar da adoração deixara de ser importante, Jesus adiciona um elemento a mais na revelação, e diz: “Mas vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é Espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.23).
Jesus ensina principalmente duas coisas nesta sentença. Primeiro, quando diz “em espírito”, Ele está indicando o nível “interior” em que deve ocorrer a verdadeira adoração, não a performance “exterior”. Ou seja, devemos comparecer diante de Deus com total sinceridade e num espírito (ou disposição de ânimo) dirigido pela atividade do Espírito Santo em nossa vida. Segundo, quando diz que a adoração deve ser “em verdade”, Ele está afirmando que a adoração tem que ser prestada de conformidade com a verdade da revelação que Deus fez de Si mesmo através de Seu Filho Jesus.
Os que propõem um tipo de adoração que ignora a verdade e as doutrinas da Palavra de Deus estão de fato desprezando, no seu todo, o único alicerce da verdadeira adoração. A adoração, para ser levada em conta, tem que consistir em atitudes e atos que reverenciem e honrem a majestade do único Deus do universo. Sendo assim, a adoração concentra-se em Deus, e não em falsos deuses, nem no ser humano, nem em qualquer imagem de escultura, quer de anjos ou de santos. Só Deus merece ser adorado, ninguém mais.
A Bíblia ensina que a adoração a Deus é a única que realmente conta, pois a adoração não centrada no único Deus verdadeiro é falsa e ineficaz.
O Evangelho tem uma marca: o que tinha de ser feito para que a nossa comunhão com Deus fosse reatada, para que a nossa adoração fosse realizada na simplicidade da fé evangélica, tudo isso já foi realizado por Jesus na cruz. Ele mesmo disse: “Está consumado!”. Essa é a boa notícia: o Evangelho “é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16).
O Evangelho é a “boa notícia” de que somos salvos pela graça. E salvação que não leva a pessoa a adorar a Deus não é salvação, é só religiosidade! O que Deus requer de cada pessoa é a verdadeira adoração na simplicidade da fé devida ao Evangelho.
Infelizmente, alguns líderes religiosos abusam da credulidade do povo, em vez de levarem as pessoas ao exercício de uma fé simples; complicam tudo e as remetem a performances religiosas e esforços pessoais que em nada aproveitam.
O Evangelho de Jesus é simples, mas deveras exigente. A porta e o caminho são estreitos e sem atalhos (Mt 7.13,14). Tentar alargá-los só dará em perdição.
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv
Samuel Câmara
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