Os discípulos de Jesus gostavam de discutir entre si sobre qual deles seria o maior. Essa ambição egoísta e a consequente competição vergonhosa dos discípulos foram logo identificadas por Jesus. Assim, numa viagem, Jesus indagou-lhes: “De que é que vocês vinham tratando pelo caminho?” Eles não responderam. Mas, depois, tomaram coragem e lhe perguntaram: “Quem é, porventura, o maior no reino dos céus?”
Bem próximo deles estava um menino, que Jesus acolheu diante de todos. Num tom de voz suave e ao mesmo tempo firme, advertiu-os: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mt 18.3).
Segundo a tradição, aquele garoto abraçado por Cristo (e posto em sua inocência como modelo do que é verdadeiramente grande) era Inácio, que viria a ser o Bispo de Antioquia. Inácio fora discípulo do apóstolo João. Contado como um dos mártires cristãos, foi devorado por feras no Coliseu romano, em 107 AD, por ordem do imperador Trajano.
Quando ouviu sua sentença, Inácio caiu de joelhos, ergueu seus olhos ao céu e bradou: “Oh, Senhor, agradeço-te por haver-me honrado com o mais precioso sinal de tua caridade, e permitido que eu seja acorrentado por teu amor”. Seu crime foi “carregar dentro de si Jesus crucificado”, confissão que fez diante do imperador romano.
Inácio provavelmente esteve presente na grande reunião antes da ascensão do Senhor Jesus, quando quinhentos irmãos na fé ouviram Jesus dizer: “Recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8).
Não era sem razão que Jesus estava convidando os discípulos a darem suas vidas por Ele, tornando-se mártires de Sua causa. Isto porque a palavra testemunha, no grego, é martureo, de onde provém a palavra mártir.
Inácio foi uma fiel testemunha, um verdadeiro mártir, assim como muitos outros mortos por causa de sua fé em Cristo, os quais selaram seu testemunho com o próprio sangue.
O primeiro mártir cristão foi Estevão, apedrejado até a morte por amor a Jesus. Um jovem chamado Saulo consentiu no seu brutal assassinato (At 8.1). Muitos anos depois, esse mesmo Saulo, agora chamado de Paulo, considerado o maior de todos os apóstolos, foi ele próprio martirizado por amor a Cristo.
João Huss, antes de morrer queimado numa fogueira por causa de sua fé em Cristo, bradou: “Hoje vocês matam o ganso (huss), mas daqui a cem anos nascerá um cisne que não poderão matar”. Lutero, cujo significado é cisne, nasceu cem anos depois e promoveu a Reforma.
O Século XX despontou como “o século dos mártires”, pois em todo o mundo milhares de cristãos foram aprisionados, torturados e mortos por causa de sua fé. Dizem os especialistas que nesse século foram mortos mais cristãos do que em todos os anteriores.
Ainda hoje, no alvorecer do Século XXI, muitos cristãos têm morrido por causa de sua fé. No Brasil, ainda há perseguição aos servos de Jesus, seja nas brenhas do Amazonas, ou no sertão nordestino, quer em terras do sul e sudeste.
Na escola Columbine (Denver, Estados Unidos), dois jovens fortemente armados entraram numa classe e ordenaram que ficassem em pé os que criam em Deus. A adolescente Cassie Bernal, de 17 anos, ficou em pé. Eles perguntaram; “Você crê em Jesus?” Ela afirmou: “Sim, eu amo Jesus”. O atirador perguntou: “Por que?”. Antes que tivesse tempo de responder, ela foi morta com um tiro.
Recentemente, foi sentenciado à forca um pastor iraniano, simplesmente por ser cristão e pregar o Evangelho. Nas fotos divulgadas, ele aparece sorrindo, enquanto seus algozes estão circunspectos, lábios serrados. A certeza da vida eterna está estampada em seu sorriso, pois ele sabia que logo estaria com seu Senhor, e para todo o sempre.
Há relatos de que muitos cristãos, os quais foram recentemente decapitados por guerrilheiros do Estado Islâmico, mantinham-se orando e ostentavam um semblante sereno, mesmo em face da morte iminente. Eles sabiam que a morte não era o fim, e que estariam para sempre com seu Senhor.
Quando a cidade iraquiana de Tikrit caiu nas mãos do Estado Islâmico, uma família cristã recém-convertida teve a sua casa invadida pelos guerrilheiros jihadistas. Tudo o que eles precisavam fazer para salvar suas vidas era negar a Cristo e se converter ao Islã. O pai da família tinha combinado anteriormente com seus seis filhos que usaria esse expediente para salvá-los. Mas as crianças se anteciparam e disseram que amavam a Jesus e estavam dispostos a morrer por Ele, mas jamais negariam a sua fé. O pai, ao ver a intrepidez dos filhos, reafirmou a sua fé e decidiu também morrer junto com seus filhos. Foram fuzilados. Agora estão com o Senhor.
As lições que os mártires deixam é dupla: primeiro, é um lembrete de que a Causa de Jesus é indestrutível, pois a Igreja do Deus vivo não pode ser destruída, como Ele próprio afirmou: “Edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).
Segundo, nos trazem estes eloquentes questionamentos: o nosso amor por Jesus é puro, a ponto de não o negarmos na hora da provação? A nossa fé em Cristo é firme, a ponto de não desistirmos de lutar? Estamos prontos para ser “martureos”, testemunhas, mártires?
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv