À medida que o tempo passa, “porque tudo passa rapidamente, e nós voamos”, o sentido de algumas palavras vai se modificando ou sendo inexoravelmente esquecido, assim como os eventos que lhe deram origem e substância. Uma dessas palavras é Páscoa, muito embora, anualmente, ela seja repetidamente lembrada, principalmente por causa do desejado e alongado feriado de fim de semana, assim como pelas guloseimas de chocolate que movimentam um vantajoso comércio. O tempo e as circunstâncias transformaram a palavra Páscoa exatamente no que ela se tornou hoje: uma festa “comercial” com verniz religioso; e o seu significado, de tão distante, se perdeu em montanhas de deliciosos ovos de chocolate e coelhinhos fofos.
Páscoa é uma palavra que vem do hebraico “pesah”, que significa literalmente “passar por cima”, “pular além da marca”, ou “poupar”. Quando o Senhor Deus libertou o povo de Israel da escravidão do Egito, no evento conhecido como Êxodo, antes ordenou que cada família reunisse seus membros, mas antes deveria tomar um cordeiro de um ano sem defeito e sacrificá-lo, para então comê-lo assado, acompanhado de ervas amargosas e pão asmo (sem fermento). Mas havia uma coisa muito mais importante que eles não deveriam esquecer jamais, sob pena de permitirem uma incontornável tragédia. Eles deveriam “também” passar o sangue do cordeiro sacrificado nos umbrais e nas vergas das portas. E por quê? Porque o Anjo da morte percorreria a terra do Egito, e nas casas onde não houvesse o sangue, o primogênito de cada família morreria. Nas casas onde houvesse o sinal do sangue nas portas, o Anjo passaria “por cima” dessas casas para “poupar” os seus primogênitos (Êxodo 12). Daí o termo Páscoa, ou “passar por cima, poupar”, e a ordem de Deus para a celebração de uma festa que servisse continuamente como o memorial dessa libertação.
Mas a mensagem da Páscoa, ainda que se reporte a um acontecimento tão distante na História, posto que decorridos cerca de três mil e duzentos anos, nos traz, ainda hoje, as importantes lições contida nos seus próprios símbolos. O cordeiro morto e o seu sangue aspergido nas portas eram um símbolo antecipado do sacrifício de Cristo na cruz pelos nossos pecados. O cordeiro “sem defeito” prefigurava o Homem que “não cometeu pecado” e Ele é exatamente “o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, o homem Jesus, o Cristo (1Pe 2:22; João 1.29). As ervas amargosas sinalizavam a necessidade de contrição e arrependimento. Como o fermento normalmente simboliza o pecado e a corrupção, o pão sem fermento indicava a pureza que é requerida de quem serve a Deus. Observe que cada família deveria estar reunida para comer a carne do cordeiro. Isto representava a unidade sagrada da família, que aos olhos de Deus é abençoada e protegida. O cordeiro sacrificado era o “Primogênito” e servia como substituto aos demais primogênitos, prenunciando a morte de Cristo como substituição à nossa própria morte (Cl 1.15; Ap 1.5).
O cumprimento de todo esse ritual identificava a obediência que vem da fé e que resulta na salvação. Se tão somente eles deixassem de cumprir a ordem de Deus, por descrença ou descuido, a morte fatalmente atingiria seus primogênitos. Era, portanto, preciso agir com a obediência da fé, pois “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11.6).
Infelizmente, a Páscoa nem sempre é um processo de expressão de fé. Para não poucos, produz suas melhores lembranças na representação de “ovos de chocolate e coelhinhos”, e nem se fala da morte de Cristo. Para outros, essa celebração é importante por causa da possibilidade de bons lucros com artigos religiosos e guloseimas. Ainda outros circunscrevem a sua importância ao aspecto do rigor religioso da proibição de comer carne vermelha e à obrigação de frequentar sua igreja. Todavia, aos que creem em Jesus como Senhor e Salvador, porém, a Páscoa representa muito mais do que religiosidade e comércio. Páscoa é libertação, livramento, salvação.
A Páscoa é para a família. Portanto, se a sua família está com problemas, ou se desintegrando, clame a Deus, pois Ele pode e quer dar livramento e tornar a sua casa uma bênção. A Páscoa é para cada pessoa. Portanto, se a sua vida está sem sentido, a Páscoa mostra que Deus quer lhe dar uma direção segura, levá-lo a uma “nova terra” de novas oportunidades. A Páscoa é liberdade. Portanto, se você é escravo de algum vício ou deformação de caráter, lembre que Deus tem o poder de perdoar, de libertar e de salvar. A Páscoa representa também contrição, arrependimento e gratidão pela obra redentora de Cristo, além de identificar uma comunhão íntima com Deus. Portanto, aproveite esse momento para se chegar mais a Deus, para buscá-lo “enquanto se pode achar” (Is 55.6).
A Páscoa é uma festividade memorial a identificar que Jesus morreu e ressuscitou pelos nossos pecados, para que tenhamos vida eterna e em abundância (Jo 3.16; 10.10). Feriado, descanso e ovos de chocolate são um fim em si mesmos e, portanto, não podem ofuscar a verdadeira festa espiritual, nem a nossa atitude de gratidão a Jesus; tampouco podem eliminar a inquietação de quem vive escravo de males e pecados.
Jesus pagou, na cruz, o preço da nossa salvação. É por isso que a Páscoa deve ser comemorada com alegria, pois aponta para a libertação que a morte e ressurreição de Jesus nos propiciaram. Cristo está vivo e a sua palavra para nós continua a bradar: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo 11.25).
Viva e celebre uma abençoada Páscoa na presença do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv
Samuel Câmara
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