Muita gente, principalmente entre os que se consideram “religiosos”, gostaria realmente de saber o que precisa fazer para alcançar a salvação eterna. E, se fosse possível fazer algo, os religiosos certamente estariam dispostos a fazer “qualquer coisa”, desde que tivessem absoluto controle da situação. Óbvio! É para pagar elevada quantia? Os ricos diriam: Feito! É para subir de joelhos uma alta escadaria? Quem não tem problema nas articulações diria: Eu topo! É para caminhar uma longa distância, carregar uma cruz, fazer um sacrifício? Há uma infinidade de pessoas que diria: É comigo mesmo! Ou seja, se é necessário “qualquer” esforço humano para conquistar o Céu, todos poderão afirmar que estarão dispostos a enfrentar o desafio, qualquer que seja.
Foi esse desejo de conquistar a vida eterna que levou um homem rico até Jesus e perguntar: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”. Não é à toa que este é o ponto de partida de muita gente: “fazer para merecer”. A ênfase no “mérito” é imediatamente percebida por Jesus, que chama a sua atenção para a bondade de Deus: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um, que é Deus”.
O homem rico quer ser colocado no centro das atenções, e Jesus “parece” entrar no seu jogo, indagando se ele sabia os mandamentos. Ora, isso era tudo o que o ricaço queria. Claro, ele guardava “todos” os mandamentos. Era candidatíssimo a um elogio do Mestre. Mas Jesus simplesmente o mandou vender tudo o que possuía e dar aos pobres, para ter um tesouro nos Céus, e depois vir a segui-lo. Estragou a festa! O homem saiu muito triste, porque era riquíssimo! Falhou logo no primeiro mandamento! (Leia a história em Lucas 18.)
Não é coincidência que Lucas cita antes duas passagens onde trata dos conceitos excludentes de graça e mérito. A primeira, uma parábola, na qual Jesus contrapunha o exaltado fariseu, que “fazia” por merecer o Céu, e o humilhado publicano, que “nada fazia” e sequer ousava levantar a cabeça, e clamava pela misericórdia de Deus. Jesus afirma que quem saiu justificado da presença de Deus foi o publicano “sem mérito”, não o fariseu “meritório”.
A segunda passagem, um fato, no encontro de Jesus com as crianças, quando Ele afirma que o Reino de Deus pertence a elas. Ambas se encontram nos versos que imediatamente precedem a história do rico aristocrata.
Tanto no caso do publicano como no das crianças, o contraste com o homem rico dá-se simplesmente porque não há como discutir que aqueles tenham sido capazes de merecer qualquer coisa. O ponto central de Jesus é o seguinte: “Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira alguma entrará nele”. Ou seja: não há nada que qualquer pessoa possa fazer para merecer o Reino de Deus. Devemos simplesmente recebê-lo “como criancinhas”. E criancinhas inocentes ainda não tiveram tempo de fazer nada que consigne meritocracia alguma.
O mundo do Novo Testamento não nutre nenhuma visão sentimental a respeito de crianças e não sustenta qualquer ilusão sobre bondade alguma inata nelas. Jesus não está absolutamente sugerindo que o Céu é um imenso “playground”. Ao contrário, as crianças são o nosso modelo, segundo Jesus, simplesmente porque não têm qualquer pretensão ao Céu. Se estão mais próximas de Deus é simplesmente porque são incompetentes, não porque são inocentes. Se recebem alguma coisa, tem de ser de presente, de graça; e isto na conta do amor de quem dá, não no mérito da criança que recebe.
O exemplo mais radical de graça, ou favor imerecido, é o caso do ladrão da cruz. O que podia ele oferecer ou fazer de bom naquela hora crucial? Tudo o que tinha feito era pecar e fazer mal aos outros! E ele mesmo afirmou que merecia o castigo. Mas ele fez a única coisa aceitável, e suplicou arrependido: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino” (Lc 23.42). Esse homem, que nem mesmo sabemos o nome, conheceu o completo significado da graça. Nada podia fazer, a não ser pedir para ser lembrado. Mas lembrar do quê? Que ele estava na cruz pelos próprios pecados, impotente, merecedor da punição? Aquele ladrão reconheceu o que nem mesmo os sábios intérpretes da Lei e os religiosos o fizeram: ele sabia que não merecia o Céu, e não havia nada que pudesse fazer para merecê-lo. Ele entendeu que Jesus tinha um Reino e queria estar lá, e sabia que o único caminho era através do favor divino.
Agora, atente bem para o “outro evangelho” que estão pregando por aí, ensinando as pessoas a barganharem com Deus. Esse “toma-lá-dá-cá” é política monetarista eclesiástica, algo usurpador por natureza, não o Evangelho de Cristo. O Evangelho de Cristo é o Evangelho da graça de Deus, cuja mensagem central é que Deus mostrou “a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus” que morreu na cruz para nos salvar.
Lembre-se: Não há nada que você possa fazer para merecer a salvação e alcançar a vida eterna. Nada! Por quê? “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.7-9).
Ao morrer na cruz, Jesus disse: “Está consumado!”. Está feito! Agora, a única coisa que lhe resta “fazer” é receber a salvação pela graça, mediante a fé em Jesus. E isso, só você pode fazer por si mesmo.
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv