Joana era uma estudante universitária que acabara de entregar sua vida a Cristo. Certo domingo, ela foi visitar uma igreja próxima ao campus, mas, despojada como era, foi descalça e vestindo uma camiseta surrada e calça jeans desbotada. O culto já havia começado, e então Joana desceu pelo corredor à procura de um lugar para sentar. Não encontrando um lugar vago, dirigiu-se para frente do púlpito e sentou-se ali mesmo no chão com as pernas cruzadas.
Os olhares de reprovação dos mais velhos, os murmúrios dos adultos incomodados, os risos incontidos das crianças, tudo concorria para tornar a cena ainda mais grotesca. Até que uma senhora se levantou e caminhou em direção ao púlpito lentamente apoiada em sua bengala. Os olhares de toda a congregação se voltaram para ela. O pastor parou de falar e houve silêncio total. Quando ela se aproximou de Joana, jogou a bengala no chão e sentou-se ao seu lado para que não adorasse sozinha.
Enquanto muitos só contemplavam uma jovem quebrando o protocolo, aquela senhora contemplava uma jovem adoradora, uma vida preciosa por quem Jesus também havia morrido. Embora estivessem na mesma igreja, as pessoas viram aquela jovem de modo completamente diferente, pois, afinal, a beleza está nos olhos de quem a vê.
Jesus colocou essa mesma verdade nestes termos: “São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão!” (Mt 6.22). Em outras palavras, o modo de olhar a vida, se positivamente ou negativamente, certamente iluminarão o seu próprio caminho, ou o tornarão tortuoso. Assim, se no gesto simples daquela jovem alguém encontra uma adoradora, enquanto outros acham apenas incômodo e motivo para reprovação, a diferença está essencialmente no modo de ver.
Quem só vê o lado ruim das coisas, portanto, perde a capacidade de celebrar e viver o que a vida oferece de melhor. Prefere centrar-se nas coisas negativas, culpando os outros ou a Deus pelos males do mundo, a se esforçar para ajudar a melhorar as pessoas ao seu redor. Não consegue ver beleza nas coisas não usuais, nem propósito algum nas coisas corriqueiras, e acaba por se irritar facilmente, em vez de celebrar a vida em sua simplicidade e pujança.
Lembro-me do exemplo de duas jovens, Maria e Paula, que foram à igreja num domingo de manhã. Maria estremeceu quando percebeu que a pianista tinha errado uma nota na introdução da música. Observou também que uma adolescente conversava no momento em que todos deviam estar orando. Ela notou que as flores colocadas ao redor do púlpito estavam murchas e suas folhas caídas. Achou que o diácono estava a observar fixamente o dinheiro que as pessoas colocavam na caixa da coleta, o que a deixou visivelmente zangada. Além disso, reparou que o pastor cometeu, pelo menos, cinco erros gramaticais durante a pregação. Enquanto saía do templo, depois do encerramento, Maria frisou: “Mas que gente desastrada!”
A maneira de Paula ver as mesmas coisas foi completamente diferente. Ela ficou emocionada ao ouvir a música de abertura. Uma adolescente leu um trecho bíblico, e isso a deixou contente. Sentiu-se animada quando foi recolhida uma oferta para ajudar missionários na África. Através da pregação, recebeu a resposta para uma pergunta que há algum tempo a atormentava. Ficou radiante ao cantarem o último hino. Ao sair do templo, Paula disse: “Que bom eu ter estado aqui!”
Muito embora Maria e Paula tenham ido à mesma igreja, cada uma viu o culto de um modo completamente diferente, pois, afinal, a beleza está nos olhos de quem a vê.
Desse modo, procure exercitar os bons olhos, busque o lado bom das coisas e das pessoas, não seu lado ruim, para não perder a capacidade de celebrar e viver o que a vida oferece de melhor. Não se concentre nas coisas negativas, nem culpe os outros ou a Deus pelos males do mundo, mas, antes, se esforce para ajudar a melhorar as pessoas e a transformar as circunstâncias ao seu redor. Nem tudo tem explicação, mas é possível ver beleza nas coisas incomuns, encontrar propósito nas coisas corriqueiras e valorizar as pessoas comuns a quem Deus atribui importância.
Todavia, deixar que olhos maus e em trevas guiem o seu caminho só lhe trarão irritação e frustração, mas, ao fim e ao cabo, a alma conturbada não terá a capacidade de solucionar problema algum e as contrariedades de um espírito mesquinho não alterarão a natureza das coisas. Além do mais, os desapontamentos não fazem o trabalho que só o tempo conseguirá realizar – tanto para sermos curados interiormente, como para nos ajudar a ver melhor as coisas e delas tirar proveitosas lições para a vida.
Qualquer que seja a nossa irritação, isso não impedirá que o sol brilhe amanhã sobre os bons e os maus e a nossa frustração não iluminará os caminhos. É bom lembrar, também, que o desânimo que sentimos não edificará ninguém e as nossas lágrimas não substituem o suor que devemos verter em benefício da nossa própria felicidade; e as nossas reclamações jamais acrescentarão aos outros uma só grama de simpatia por nossa vida.
É necessário que aprendamos a ver cada situação da vida como uma oportunidade única, talvez até de um milagre de Deus. O Senhor se importa conosco, Ele sabe dos nossos sentimentos e está disposto a nos ajudar. Mas temos que aprender a manter uma atitude correta de olhar a vida e desfrutar sua beleza, para sabermos também enfrentar com galhardia os problemas que surgem.
Que os bons exemplos dessas simples e notáveis mulheres, agora e sempre, ensinem a todos que a beleza está nos olhos de quem a vê.
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv