Depois da Sua ressurreição, Jesus apareceu aos discípulos no momento em que se encontravam enclausurados entre quatro paredes, enfraquecidos e aprisionados pelo medo. Em vez de censurá-los, Ele os saudou: “Paz seja convosco!”. E acrescentou: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20.21).
O que queria isto dizer? Como Jesus poderia fazer uma coisa dessas? Todos os discípulos (e não somente Pedro) haviam negado a Jesus; fugiram quando mais o Mestre precisava deles, não acreditavam na Sua ressurreição; estavam tão espavoridos que só podiam manter uma linha de ação: se esconder na negação! Jesus, porém, os enviou para “mostrarem a cara”, não sem antes lhes dar o modelo.
“Assim como” quer dizer “do mesmo modo”. Ou seja: na mesma dimensão de compromisso, na mesma disposição de ânimo, no mesmo despojamento pessoal e abnegação em prol do reino, na mesma singularidade da missão, na mesma capacitação de poder espiritual. Jesus teve duas missões essenciais, mas geralmente só falamos da segunda: sua morte na cruz. A primeira, é que Jesus veio mostrar como o Pai é! As duas, conjuntamente, formam o poderosíssimo binômio do cumprimento da vontade plena de Deus no mundo.
Quando Jesus os enviou “do mesmo modo” que o Pai o enviou, certamente não estava dizendo que eles deveriam morrer na cruz; mas, especialmente, que deveriam, a partir dali, ter uma única missão essencial: mostrar ao mundo como o Pai é, “assim como” Jesus o fez. E isso não é feito sem uma boa dose de incompreensão dos outros, sem desmedido sofrimento infringido por muitos, enfim, sem um alto preço a pagar.
O apóstolo Pedro aprendeu a lição, de modo que ensinou: “Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos (1Pe 2.21). Pedro não está propondo um tipo de “masoquismo” religioso, mas sim um modelo de altruísmo espiritual, o único possível, que é andar assim como Jesus andou, e sofrer as consequências.
O apóstolo Paulo, quando servia à Igreja em Corinto, encontrou muita resistência ao ensino da imitação de Cristo, pois tudo o que a maioria daqueles discípulos fazia era absurdamente contrário aos ensinamentos do Senhor. De fato, eles tinham dificuldade de encontrar em alguém que não conhecessem pessoalmente o exemplo para seguirem os passos. Por isso eles gostavam tanto de “filósofos da hora”, não importando se as suas filosofias fossem apenas novidades descartáveis ou lhes fizessem tão somente cosquinhas na alma. Para eles, principalmente por causa das implicações de um suposto “morto ausente” que alguns diziam estar vivo, Jesus era um mito, alguém distante, no tempo e na cultura.
Ora, Paulo também não convivera com Jesus. Tudo o que ele sabia a respeito do Senhor tinha-lhe sido comunicado por divina revelação. Ele nem mesmo convivera com os discípulos. Mas Paulo imitava ao Senhor, pois sabia que imitar significava, em suma, “trazer o mito à realidade” da própria vida. Por isso, ele escreveu aos coríntios: “Olhem para mim, vejam o meu exemplo, pois eu sou imitador de Jesus Cristo. Imitem a mim, e assim estarão imitando ao Senhor” (1Co 4.16; 11.1 – citação livre).
O apóstolo João também indicou esse caminho: “Aquele que diz que permanece nele [em Jesus], esse deve também andar assim como ele [Jesus] andou” (1Jo 2.6).
O que esses três apóstolos nos querem dizer é que a imitação de Jesus é algo essencial à vida de quem serve a Deus. Isso vale para todos os discípulos de Jesus, em qualquer época e cultura.
O Senhor Jesus é o nosso exemplo-mor de vida de fé e ministério e, através dos Seus passos, Ele nos ensina como o Pai quer que andemos na vida comum do lar e na vida pública. Todos nós somos comissionados e ungidos para seguir os Seus passos como enviados Dele ao mundo.
Jesus andou de modo a agradar ao Pai, buscando fazer a vontade do Pai, não a Sua própria. Ele buscou também fazer o bem a todos, Seu culto e adoração ao Pai eram feitos no templo da vida, onde buscava em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça, amando e evangelizando a todos: prostitutas, pecadores corruptos, religiosos hipócritas, e também pessoas honradas.
Jesus esvaziou-se a Si mesmo, o que também é requerido de nós: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”. Embora Ele fosse “igual a Deus”, fez esta escolha: “a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens” (Fp 2.5-7).
Mas como alguém poderia andar “assim como Jesus” andou?
Isso tem a ver com imitação. Devemos começar seguindo o Seu exemplo quanto ao despojamento pessoal, o da vontade própria. Depois, centrar a vida na comunhão com o Pai, mantendo uma vida de normalidade de oração. Jesus orava regularmente, e isso o habilitava a viver debaixo do poder do Espírito e a fazer a vontade do Pai (Lc 4.14). Ora, se Jesus, o Filho de Deus, precisava despojar-se, orar (e jejuar), quanto mais nós!
Diante dos imensos desafios de nosso tempo, precisamos orar (e, se possível, jejuar) para andarmos no mesmo poder e também fazer a vontade do Pai. E que possamos fazer e dizer como Jesus: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4.34).
É importante que frisemos que a oração e o jejum, tomados isoladamente, nada podem fazer quando o coração está longe da vontade de Deus. Oração e jejum não são “varinha de condão” da fé para mudar a vontade de Deus a nosso favor. Ao contrário, oração fala de relacionamento com Deus baseado na confiança; e jejum, de despojamento pessoal. Simples assim!
Oro ao Pai para que Ele nos conceda a graça de fazermos da imitação de Cristo o corolário da nossa vida, principalmente para mostrarmos ao mundo, com o nosso exemplo, como o Pai é!
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv