Quando José era o governador do Egito, seu pai Jacó, fugindo da grande seca e a convite do filho ilustre, foi com toda a sua família morar numa terra fértil às margens do Nilo. Na ocasião, Jacó teve uma audiência com o Faraó, que lhe fez uma inusitada pergunta: “Quantos são os dias dos anos de tua vida?”. Mas a resposta de Jacó dá a exata dimensão e abrangência do que Faraó queria então conhecer a seu respeito. Ele respondeu: “Os dias dos anos das minhas peregrinações são cento e trinta anos; poucos e maus foram os dias dos anos da minha vida e não chegaram aos dias dos anos da vida de meus pais, nos dias das suas peregrinações” (Gn 47.9).
Em suma, o que Faraó queria saber não era somente a idade de Jacó, mas principalmente o quanto desse tempo teria valido realmente a pena, teria sido realmente vivido ou merecido o sacrifício de sua existência. Nisso Jacó foi claro ao dizer que, em 130 anos de vida, poucos dos seus dias tinham valido realmente a pena, posto que, como confirma a sua história, vividos imersos na incerteza de uma longa fuga e na dolorosa saudade do amado filho “perdido” (no caso, José) a quem não dera um enterro decente. Agora, a partir dali, ele teria a chance de contar os seus dias de maneira diferente e melhor.
Moisés, em um Salmo, provavelmente escrito quando se tornara octogenário, expressa o peso esmagador que a somatória dos anos concede aos mais longevos (“Os dias da nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor deles é canseira e enfado”), enfatizando que isso é devido à brevidade da vida (“porque tudo passa rapidamente, e nós voamos”). E acrescenta a isso uma prece a Deus suplicando pela sabedoria fundamental da aritmética da vida que tem o condão de aquilatar a validade do que foi realmente vivido: “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio” (Sl 90.10, 12). A mesma ideia de “contar os dias”, que significa ter a noção exata de quanto da vida realmente valeu a pena ter sido vivido, de quanto da vida, descontados os remorsos e arrependimentos, pode ser colocado na galeria do “eu faria tudo de novo”.
Ao pastor Firmino Gouveia, que completará 91 anos na próxima segunda-feira, 21 de março, poderia ser feita a mesma pergunta de Faraó, ou dele próprio poderia partir a prece de Moisés para buscar ser ensinado por Deus a contar os seus dias. Tanto faz. É certo que ele, do alto de seus 91 anos de idade, tem o cabedal dessa sabedoria basilar da aritmética da vida, de saber “contar os dias”, para nos ensinar as preciosas lições de que precisamos para também, se Deus nos conceder tal longevidade, podermos viver de tal modo que realmente importe.
Envelhecer é bom? Quando perguntado sobre isto, o médico Alexandre Kalache, chefe do Programa de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial de Saúde, respondeu: “Envelhecer é ótimo”. Para ele, só há uma alternativa ao envelhecimento: morrer cedo. “Agora, para envelhecer bem” – acrescentou – “a gente tem que investir nesse processo de envelhecimento”.
Isto é perfeitamente aplicável ao pastor Firmino Gouveia, em seus 91 anos de existência. Quem o observa, só pode querer saber: Qual é o segredo? Que investimento fez? Como aprendeu a “contar os dias” com sabedoria?
De sua “conta de dias” brota uma resposta: o que realmente contou foi que investiu toda a sua vida, desde a juventude, em seguir a Jesus e a viver os valores do Reino. E disso não se arrepende, pois Jesus é o maior amor da sua vida, é o arrimo de sua sorte. Jesus é a razão do brilho que brota de sua vida, pois Ele é a sua Luz, o seu Pastor, o Amigo de todas as horas.
Ele foi o pastor que por mais tempo presidiu a Igreja em Belém: 29 anos. E também nos brindou com o abnegado exemplo de sua sucessão, em 1997, ainda em uma boa e produtiva idade, para viver mais e poder contar seus dias de outra perspectiva.
O exemplo do pastor Firmino Gouveia nos serve de balizamento de que devemos investir as nossas vidas no que realmente importa: nos valores do reino de Deus, em obediência irrestrita ao único Senhor e Salvador Jesus Cristo! Ele não só é a melhor razão para viver, mas também para envelhecer. E somente em andar com Jesus, vivendo com Ele, por Ele e para Ele é que podemos “contar os dias” de tal modo que a sabedoria resultante inspire aos outros a viver os mesmos valores.
O texto bíblico preferido do pastor Firmino Gouveia, um Salmo de Davi, ajuda a entender um pouco sobre o homem: “Confia no Senhor e faze o bem; habita na terra e alimenta-te da verdade. Agrada-te do Senhor, e ele satisfará os desejos do teu coração” (Sl 37.3-4). Assim, o pastor Firmino Gouveia sabe que é maravilhoso agradar ao Senhor Deus, cujo processo começa na confiança colocada Nele e passa pelo bom comportamento de proceder corretamente. Mas só isso não basta; é preciso, igualmente, agradar-se do Senhor pelo que Ele é: pelo Seu caráter Fiel, pela Sua bondade ilimitada e pelo Seu amor imutável.
Na aritmética da vida, o pastor Firmino Gouveia aprendeu que a contabilidade essencial é algo prático: “Considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo” (Fp 3.8).
O pastor Firmino Gouveia alcança, agora, 91 anos bem contados. E que ‘muitos’ e ‘bons’ dias lhe sejam acrescentados na aritmética da vida. Aqui vai a minha homenagem pessoal e também de toda a Igreja belenense e brasileira. Feliz aniversário!
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv