Quando Deus não desiste de amar


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Pedro era um dos apóstolos mais destemidos, falava pelos cotovelos, era sempre solícito e impetuoso. Ao mesmo tempo em que se mostrava cuidadoso, diligente e zeloso quanto ao que Jesus falava sobre a vida em geral, mostrava-se inquieto, apreensivo e receoso sobre as revelações que ouvia do Mestre quanto ao seu futuro próximo. Certa feita chegou a contestar as palavras de Jesus, que lhe avisara sobre sua negação de que sequer o conhecia, repetindo enfaticamente que jamais o trairia, mesmo que tivesse de morrer; e que jamais o abandonaria, mesmo que todos os outros o fizessem.
Cumpriu-se o que Jesus falara: Pedro negou fragorosamente o Mestre três vezes numa mesma noite, enquanto se aquecia na fogueira ardente perante serviçais e soldados. E então, o galo cantou, despertando-o do seu comportamento infiel. Pedro virou um caco emocional e, recolhido à sua insignificância, chorou amargamente arrependido a noite inteira. A culpa vitalizada pelo cantar de todos os galos da madrugada, o crepitar das chamas da negação em sua mente, os soluços de uma alma convulsionada pelo despautério de ter pisado nas próprias palavras enquanto negava seu Mestre inocente, tudo isso fez de sua noite a mais miserável de todas as noites que um homem pode atravessar.
Pedro ouvira Jesus dizer que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu único Filho” para nos salvar. Desse modo, ele havia traído e negado o próprio amor de Deus. Será que Deus ainda o amaria, depois de tudo o que fizera?
Depois que Jesus ressuscitou de entre os mortos, após aparecer a vários discípulos e conversar com eles, teve também uma conversa em particular com Pedro. Diante de uma fogueira (onde Jesus tenta reproduzir o ambiente da negação), em vez de lhe dar uma dura reprimenda ou pregar um vigoroso sermão sobre infidelidade, Jesus faz a menos óbvia de todas as perguntas: “Pedro, tu me amas?”. Certamente, não era o que um homem carregado de culpa esperaria ouvir. Pedro negara a Jesus três vezes. Jesus perguntou três vezes se Pedro o amava. A cada resposta de Pedro, Jesus acrescentava-lhe um desafio para que pastoreasse as suas ovelhas (Jo 21.15-17).
Jesus não desistiu de amar a Pedro, antes lhe deu uma nova chance de se levantar com dignidade e tornar-se relevante na vida. E a única coisa que faz alguém que falhou fragorosamente levantar-se dignamente e ser relevante na vida é o amor. Ser amado incondicionalmente e, a partir disso, responder amando e servindo ao próximo.
Agora, consideremos: se há alguém que sempre se importa conosco e nos ama incondicionalmente, esse Alguém é Deus. Mas será que temos dado o devido reconhecimento a esse cuidado e amor?
Israel, o povo escolhido de Deus, em diversas ocasiões de sua história, rejeitou o amor do Senhor. Isso fez com que Deus externasse o quão frustrante era esse tratamento recebido.
Deus disse: “Quando Israel era menino, eu o amei… Quanto mais eu os chamava, tanto mais se iam da minha presença… e queimavam incenso às imagens de escultura… Tomei-os nos meus braços, mas não atinaram que eu os curava. Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor; fui para eles como quem alivia o jugo… e me inclinei para dar-lhes de comer” (Os 11.1-4).
Talvez você se indague: como Deus poderia continuar amando um povo que sempre lhe virava as costas? Ele simplesmente amava, e pronto! Tal como um pai amoroso, que continua a amar o filho, mesmo que este se desvie e faça coisas erradas.
O amor de Deus é incondicional, como está escrito: “De longe se me deixou ver o Senhor, dizendo: Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí” (Jr 31.3).
O amor não é medido pelo que recebe, mas pelo que oferece. O amor tem prazer em doar. Alguém afirmou: “Diga-me o quanto você dá de si mesmo e eu lhe direi o quanto você ama”. Isto porque “doar-se” é o teste maior do amor. Desse modo, a grandeza do amor de Deus é demonstrada pelo presente inestimável que Ele nos deu.
O quanto Deus amou o mundo perdido? “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
O quanto Deus amou a Igreja? “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5.25).
O quanto Deus me ama? “Vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20).
Talvez você se encontre longe de Deus, talvez lhe tenha virado as costas, e agora está se perguntando: Como Deus poderia continuar me amando?
É que Deus não desiste de amar. Paulo expressou bem isto: “Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.38-39).
Volte-se para Deus. “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais ele fará” (Sl 37.5). Reconheça o amor de Deus, prove do Seu amor enquanto é tempo, porque Deus não desistiu de amar você.

Samuel Câmara

Pastor da Assembleia de Deus em Belém

E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv