Justiça, misericórdia e humildade: são esses os sólidos fundamentos da dignidade de um povo; são a base na qual devemos alicerçar as nossas vidas e de toda a nação. A Bíblia ensina que “a justiça exalta as nações”. Ela também diz que Deus espera, no trato de uns para com os outros, que seja priorizado o exercício da misericórdia (“misericórdia quero e não holocaustos”), em vez da prática de sacrifícios espetaculosos. Por fim, a Palavra ensina que “a humildade precede a honra”, pois é a virtude que, antes de elevar, nos permite entender a dimensão da nossa fraqueza.
Todos os anos dezenas de fóruns internacionais buscam respostas a questões sociais que estão engasgadas no “gogó” dos líderes mundiais, sobre como estabelecer as melhores estratégias para a construção de uma sociedade mais digna, justa e igualitária. A cada dia, mais organizações surgem para fazer frente a esses desafios, o que tem ensejado um campo fértil para o surgimento de diversas teorias e práticas sobre como fazer justiça e ajudar o pobre e desvalido a se levantar de sua pobreza e viver uma vida digna.
Na esteira desse contexto, têm surgido também muitos aproveitadores na esfera pública, para os quais a prestação de serviço ao pobre se tornou um comércio lucrativo à custa do erário, ou seja, o exercício de uma misericórdia que não liberta nem gera justiça social, antes enche o suposto “benfeitor” de uma injustificada riqueza e o cobre de uma infausta honra.
A solução da questão da injustiça social, assim como da pobreza que ela causa, exige mais que exercícios teóricos e práticas assistencialistas aleatórias. Precisamos entender também os valores, ou a falta deles, que subjaz a essa problemática, pois isso pode ser o diferencial que pode elevar uma nação ou destruí-la.
Tomemos o exemplo de quando as tropas americanas se preparavam para lutar na Primeira Guerra Mundial, em 1917, ocasião em que a Sociedade Bíblica de Nova York pediu ao presidente Roosevelt para escrever uma mensagem nos Novos Testamentos de bolso que seriam dados aos soldados. Ele concordou e começou citando um esplêndido chamado bíblico — que chamou de “Mandato de Miquéias” — para uma vida de equilíbrio: “Ele mostrou a ti, ó homem, o que é bom; e o que é que o Senhor exige de ti, senão que pratiques a justiça, ames a misericórdia e andes humildemente com o teu Deus?” (Mq 6.8).
Roosevelt disse: “Todo o ensino do Novo Testamento está prenunciado no versículo de Miquéias”. Ele então exortou os homens a liderarem o mundo “em ambos, palavra e obra, através de uma retidão moral irrepreensível”. Em sua breve mensagem aos soldados, ele explicou: “Pratique justiça e, portanto, lute valentemente contra os que defendem o reino de Moloque e Belzebu nesta terra. Ame a misericórdia; trate bem seus inimigos; socorra os aflitos; trate a todas as mulheres como se fossem suas irmãs; cuide das crianças; e seja terno com os velhos e desamparados. Ande humildemente; você será assim, se estudar a vida e o ensino do Salvador, andando em Seus passos”.
Roosevelt concluiu dizendo: “Lembre-se: o maquinário mais perfeito do governo não nos impedirá da destruição como nação, se não houver dentro de nós uma alma. Nenhuma abundância de prosperidade material será de utilidade para nós se nossos sentidos espirituais atrofiarem. Os adversários de nossa própria família seguramente prevalecerão contra nós, a menos que haja em nosso povo a vida interior que encontra sua expressão exterior em uma moralidade que foi pregada pelos videntes e profetas de Deus, quando a grandeza do que foi a Grécia e a glória do que foi Roma ainda estavam no futuro”.
O presidente Roosevelt cria que a principal segurança de homens e nações dependia de uma fiel adesão à demonstração tripla de moral e equilíbrio prático dos veneráveis profetas do Velho Testamento, isto é, um intenso compromisso com a justiça, uma preocupação tangível com a misericórdia e um andar em reverente humildade diante do Deus Todo-poderoso. Ele estava convicto de que mesmo com o alinhamento de forças e armamentos superiores, as forças bélicas americanas seriam finalmente vencidas durante a guerra, se chegassem ao campo de batalha desprovidas deste tipo de visão integral da vida.
Deixando de lado quaisquer querelas ideológicas e guardando as devidas proporções, a citação de Roosevelt acima pode muito bem ser utilizada em nossas relações domésticas. Ninguém duvida que vivemos hoje uma “guerra urbana” não declarada, que tem gerado todo tipo de injustiça social, violência, corrupção, criminalidade, depredação de bens públicos e particulares, descuido com a infância, desrespeito aos idosos, discriminação com as mulheres etc.
Se nos falta o compromisso com a justiça, sobra-nos infidelidade; se nos falta a preocupação tangível com a misericórdia, sobra-nos miseráveis e proscritos sociais; se nos falta a humildade de reconhecer as nossas limitações diante dos desafios monstruosos de construir uma sociedade igualitária, sobra-nos a arrogância de achar que não dependemos da ajuda de Deus.
Os sólidos fundamentos da dignidade de um povo são justiça, misericórdia e humildade. E eu oro a Deus para que, nessa base, possamos construir um Brasil melhor!
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv