Um agricultor plantou duas árvores da mesma espécie. Uma em solo plano, no meio do terreno, onde suas raízes se aprofundaram na terra em busca de água. A outra, na parte mais baixa de um declive. Quando chovia, a água passava por aquele lugar e escoava para a estrada. Ambas as árvores cresceram e pareciam fortes e viçosas. Foi então que sobreveio um terrível vendaval e assolou as duas árvores. A árvore do meio do terreno permaneceu firme, enquanto a outra tombou.
O agricultou descobriu, finalmente, que os sistemas radiculares eram diferentes. A árvore plantada no meio do terreno possuía raízes profundas, enquanto a do baixio possuía raízes rasas. Na base do declive, quando chovia, a água passava suavemente na superfície do solo, por isso as raízes não tinham de coletar água em profundidade e permaneceram superficiais. Esse foi o motivo de a árvore não ter suportado a força do vendaval.
Toda árvore grande e frondosa geralmente desenvolve suas raízes numa lateralidade rasa e também numa verticalidade profunda, pois precisa aproveitar tanto as águas correntes na superfície em tempos de abundância como as águas profundas em tempos de sequidão.
Que a lição espiritual se pode tirar desse exemplo?
O profeta Jeremias descreve a vida profunda daquela pessoa que confia no Senhor e tem Nele a sua esperança: “Porque ele é como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e, no ano de sequidão, não se perturba, nem deixa de dar fruto” (Jr 17.7-8). Fica claro que essa árvore possuía um duplo sistema radicular, tanto lateral raso como vertical profundo, de modo que podia facilmente manter-se viçosa em tempos de abundância e subsistir bravamente em tempos de estio, sem jamais deixar de cumprir sua missão essencial de dar fruto e perpetuar sua espécie.
É assim com quem confia no Senhor, pois tem raízes rasas estendidas “para o ribeiro” em tempos de fartura; e também “não se perturba, nem deixa de dar fruto” em período de sequidão, pois suas raízes são profundas.
O problema da árvore com raízes rasas é que ela se “acomodou” diante de tanta abundância e descuidou-se da firmeza necessária para enfrentar as intempéries.
Quantos cristãos têm a vida espiritual rasa por estarem procedendo como a árvore acomodada?
Como identificar, então, o cristão raso e diferençá-lo do cristão profundo? Consideremos alguns aspectos que certamente nos ajudarão a estabelecer quem é quem.
O cristão raso vive pulando de igreja em igreja, numa procura sem fim daquela que é “mais forte” para poder receber suas bênçãos. Para ele, seguir o Evangelho é ter seus sonhos realizados, os pedidos atendidos, as vontades expressas em decretos e ordens inconsequentes a um suposto “Deus” domesticado e pronto para atender-lhe os caprichos.
O cristão raso não entende o conceito de graça, pois vive por obras e barganhas; também não dá graças em tudo, pois quando não consegue imediatamente o que quer, sua oração não passa de uma mera reclamação. Quer um Deus de bênção, não de disciplina; prefere o caminho largo dos modismos espiritualistas (que não lhe custa nada, senão uns trocados) ao caminho estreito da salvação (que lhes demanda o alto preço de uma entrega total).
O cristão raso participa dos cultos apenas para receber bênçãos, não para expressar a sua adoração e amor a Deus; não procura conhecer a Deus para ter intimidade com Ele. Quer bênçãos financeiras, mas, geralmente, usa dízimos e ofertas para barganhar com Deus, não para abençoar e manter a Obra.
O cristão raso quer cura e libertação, mas não tem uma vida regrada e nem foge da promiscuidade; antes, se entrega a todo tipo de prazer e vícios. Quer ser perdoado, mas nem sempre libera o necessário perdão para ser liberto; antes, guarda mágoas e ódio contra seus irmãos em Cristo. Pede livramentos, mas não vive de forma correta; antes, se expõe desnecessariamente ao perigo. Dá livre curso às suas ambições materialistas a fim de acumular tesouros na terra, mas não acumula tesouros no céu, nem prioriza os valores espirituais e eternos.
Não tem nada de errado em buscar as bênçãos de Deus. Muitas pessoas se chegam a Deus em busca de cura, libertação, livramento etc., e devem fazê-lo livremente. Não podemos censurar as pessoas por buscarem algo sobrenatural que lhes traga melhoria de vida, se elas creem no poder de Deus e esperam receber as bênçãos de que precisam. O problema é a rasidão da vida espiritual que pode resultar da acomodação dessa experiência.
Agora, o cristão profundo, ao contrário, “é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido” (Sl 1.3). Ele sabe viver e aproveitar os tempos de abundância, mas também não deixa de dar frutos em tempos de escassez. Ele não busca bênçãos, elas é que vêm atrás dele. Ele não persegue o sucesso a qualquer preço, o sucesso é a consequência de seu viver enraizado profundamente na Palavra de Deus.
Portanto, cristão, não se acomode; saiba que vale a pena viver com profundidade!
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv