Certo homem definia a si próprio como cristão, e dizia com suposto ar de superioridade: “Sou cristão na Páscoa e no Natal”. Ele achava sinceramente que só isso lhe bastaria. Outros são cristãos apenas numa outra grande ocasião, como o aniversário de sua igreja, ou na sua romaria preferida, ou no dia do seu santo do coração, ou durante o Círio de Nazaré, ou no dia de Aparecida, e assim por diante. Não precisamos questionar a sinceridade dessas pessoas, nem suas escolhas religiosas. Mas convenhamos: o que essas pessoas sinceras geralmente não se dão conta é de que sua proposta pessoal de religião é apenas uma religiosidade de meio-período.
Devemos também considerar que algumas pessoas, embora se achem mais cristãos do que esses dos exemplos acima, exatamente porque não relegam sua fé a apenas um ou dois dias por ano, na verdade também assumem um tipo de cristianismo de meio-período quando determinam o tempo e o lugar para praticarem a sua fé. Essas pessoas desconhecem que ser cristão não tem nada a ver com um tempo e um lugar específicos, mas é algo para a vida toda, para todos os lugares e todos os dias, para todos os momentos e em toda parte.
Em outras palavras, quando escolhemos pecar ou negligenciar a nossa relação com Cristo, qualquer que seja o dia ou o local, ou quando deixamos o mundo nos deformar, em qualquer tempo e lugar, com seus moldes anticristãos, também nos tornamos cristãos de meio-período. Todo cristão precisa estar fidelizado ao que disse Jesus: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23). Não importam as circunstâncias, seguir a Jesus envolve a pessoa toda em todo o tempo e em todos os lugares onde se encontrar. Do contrário, seria viver como um cristão de meio-período.
Lembro-me do caso de um jovem que se apresentou para uma entrevista para ocupar um cargo em uma empresa. Bem vestido, logo causou uma boa impressão ao diretor de recursos humanos. Ele também apresentou um excelente currículo, onde listou como referência o pastor da igreja onde frequentava, assim como o seu professor da Escola Dominical e um diácono.
O diretor, após analisar o currículo por alguns minutos, então falou: “Aprecio as recomendações de seus amigos da igreja. Mas eu gostaria realmente de saber a opinião de alguém que se relaciona com você durante a semana”. É lamentável dizer, mas a posição tomada pelo diretor parece revelar que há um nítido contraste na forma como alguns cristãos agem na igreja e o seu comportamento no mundo.
Não pretendo ser juiz de ninguém, mas como pastor trato diariamente com questões dessa natureza. Não são poucos os cristãos que, mesmo sendo assíduos na igreja, não podem ser tomados como modelo ideal de vida cristã, tanto na sua relação com Deus como em seu relacionamento com as pessoas, principalmente de suas próprias famílias.
Alguns cristãos vivem um padrão duplo, pois sua conduta diária teima em ser inconsistente com os valores espirituais cristãos; sua caminhada no mundo mostra-se francamente em desarmonia com sua suposta caminhada com Deus. São cristãos de meio-período.
Um bom teste para sabermos se estamos sendo coerentes é nos perguntarmos: Será que os nossos amigos da igreja se chocariam se observassem nossas ações e ouvissem o que falamos no trabalho ou em casa?
Há outras questões que não querem calar. Na verdade, que exemplo é deixado para as pessoas com as quais convivemos e que rotineiramente nos observam? Um bom cristão aos domingos não deveria também ser um bom cristão durante a semana?
Jesus nos ensinou que temos o dever de ser tanto “sal da terra” como “luz do mundo”. E isso todo dia, não só aos domingos; e o dia todo, não só quando no templo. Isso quer dizer que o nosso testemunho deve ser efetivamente produtivo. Mas Jesus também advertiu, no Sermão do Monte, quanto ao perigo de o nosso testemunho vir a tornar-se improdutivo e incoerente, exemplificando com a possibilidade da perda do sabor do sal e de se esconder a luz (Mt 5.13-20)
Há, porém, duas coisas que devemos considerar sobre esses elementos. Primeiro, o sal só é útil para dar sabor se estiver em contato com a comida, misturado a ela. Jesus nos chama para darmos “sabor” à sociedade em Seu nome, por meio do nosso envolvimento com as pessoas, obviamente com o nosso testemunho condizente com os valores espirituais que professamos. Assim, temos de viver, “acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo” (Fp 1.27).
Segundo, a luz deve ser sempre visível, senão perde o seu papel e importância. Cristãos que vivem como “agentes secretos” de Deus precisam sair do esconderijo e ser conhecidos como discípulos. Em vez de “povo escondido”, precisamos ser vistos como “povo escolhido” de Deus, cuja profissão de fé deve ser evidenciada por meio das boas obras, “as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10).
O sal se imiscui na comida sem alarde e lhe dá sabor. Quando ele não está lá, logo se nota. Assim também a luz. Moody disse: “Um farol não precisa fazer alarido para atrair a atenção dos navios. Ele apenas brilha”.
Decida se você é um cristão em tempo integral ou apenas um cristão de meio-período. Isso, sim, só depende de você.
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv