Que valores você tem na vida?


pr_samuel

Certo cirurgião, empresário famoso e bem sucedido, dono de hospitais e clínicas, cuja dinâmica de vida fez com que trabalhasse demais, acabou sofrendo um AVC e foi aconselhado a se retirar para um lugar de lagos, para relaxar e praticar a pesca como terapia ocupacional. Ali, contratou um pescador da região. No lago, o peixe não beliscava a isca do médico, de modo que ele nada fisgava. Mas o pescador lançava seguidamente o anzol e logo pegava muitos peixes. Então o médico e o pescador travaram o seguinte diálogo:
— Por que você não monta uma empresa de pesca?
O pescador respondeu: — Pra quê? 
— Para estocar, abastecer o mercado e vender o produto.
— Pra quê?
— Para ganhar muito dinheiro, ficar rico e ter muitas coisas.
— Pra quê?
— Para gozar os prazeres da vida, relaxar, tirar férias e pescar – insistiu o médico.
O pescador, observando o estado de saúde do médico, disse: — Pra quê? Eu já tenho tudo o que preciso para ser feliz. E nem preciso passar pelo que o senhor está passando.
A lição que fica desse exemplo simples é que algumas pessoas permanecem imersas na simplicidade e não sabem como avançar, talvez porque não queiram; outras se tornam densas de sofisticação e não sabem como retornar, talvez porque não possam.
De fato, chega um tempo em que temos de pensar a respeito do valor que damos às coisas e às pessoas. Não em termos monetários, mas em seu valor essencial, intrínseco, e no que a sua conquista representa para nós. É quando sentimos a necessidade de olhar para trás e tomar atenção para o rastro que deixamos. Nessa hora, a própria vida cobra uma resposta: O que realmente valeu a pena ter vivido?
O que mais vale a pena em termos de experiências de vida são aquelas situações sobre as quais dizemos de alma limpa: “Eu faria tudo de novo”. Nada a retocar, nada a acrescentar. Diferente daqueles que dizem a mesma coisa porque são cínicos e não querem reconhecer as besteiras que fizeram e os rastros tortuosos que deixaram pelo caminho. Infelizmente, esses só saberão valorizar o que tinham quando perderem.
Alguns, por não pensarem a partir do valor das pessoas, e sim das coisas, sacrificam tudo o mais para obterem “sucesso” — fama, dinheiro, prazer, poder etc. Ao focarem o “ter” e não o “ser”, talvez seja tarde demais quando o buraco existencial cobrar a sua conta e faltarem amigos, família, amor e paz… e sobrar apenas uma saúde debilitada e uma vida depauperada de valores essenciais.
Esses paradoxos e incongruências da vida são uma arapuca emocional que a muitos aprisiona. Vão longe demais, perdem o que podiam ter conservado, depois gastam tudo o que têm para obter o que já tinham e vieram a perder. Ou seja, o preço pago é muito maior, mas sem obter as condições mínimas para refazer a vida.
Deus quer que cada um de nós tenha valores bem definidos, que nos façam prosperar na vida e, por fim, tenhamos a certeza de que valeu a pena ter vivido. E o que Deus teria para nos orientar em relação a isso, Ele proferiu em conselhos específicos a Seu povo, que Moisés compilou no livro de Deuteronômio (veja capítulo 6.4-12), assim resumidos:
1. Concentrem-se no propósito da vida e mantenham as prioridades bem estabelecidas (Dt 6.4,5).
2. Tornem-se tão familiarizados com a Palavra de Deus a ponto de ela tornar-se parte do que pensam, sentem e fazem (Dt 6.6).
3. Conversem sobre Deus com seus filhos e busquem oportunidades para falar-lhes sobre o Seu imenso amor (Dt 6.7).
4. Escrevam as promessas de Deus como lembretes e coloquem-nas onde possam ser vistos com facilidade, para nunca se esquecerem delas (Dt 6.8,9).
5. Reconheçam que sua maior necessidade é ter Deus na vida, e isso não está limitado a momentos de infortúnio, pressão ou perigo. Alegrem-se e sejam gratos por todo o bem recebido da parte de Deus, pela saúde e felicidade resultantes, pois é o Senhor que abençoa a sua vida (Dt 6.10-12).
Sem Deus, todos os valores que possamos reunir na vida acabam sendo semelhantes à palha levada pelo vento. E tudo o que alguém possa garantir na vida, sem Deus, é nada. Deus quer que celebremos a vida e gozemos todo o bem que Ele mesmo nos preparou.
Desse modo, ao fazermos um balanço, descobrimos que a felicidade finda estando nas coisas simples e ao alcance de todos, não nas sofisticações que terminam por frustrar a maioria, pois são privilégio de poucos. Isso confunde a sociedade, pois quando a vida é encaminhada em função da filosofia do ter para ser – e não o oposto, o ser para ter – talvez só tardiamente descubramos que, por não sermos o que devíamos ser, não valeu a pena ter tido.
Fica claro, portanto, que naquilo em que é focado o nosso interesse está a matriz que vai dizer o real valor que temos dado ao que nos cerca. Tal como disse Jesus: “Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6.21). Assim, procure valorizar o que Deus valoriza, pois é isso que vai, finalmente, lhe fazer viver a vida que vale a pena ser vivida.

Samuel Câmara

Pastor da Assembleia de Deus em Belém

E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv