Os mansos herdarão a terra


pr_samuel

Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mt 5.5). Esta é a terceira bem-aventurança preconizada por Jesus no conhecido e celebrado Sermão do Monte. Mas quem busca a definição de manso em um dicionário, terá dificuldades em crer que Jesus estivesse mesmo elegendo a mansidão como digna de alguma herança num mundo onde quem manda é a seleção natural, ou seja, a lei dos mais fortes. Os dicionários definem manso: “De gênio brando, ou índole pacífica; bondoso, pacato. Sereno, sossegado, tranquilo, quieto. Domesticado, amansado”. Das duas, uma: os dicionários estão certos e, portanto, Jesus se equivocou; ou Jesus tem uma definição de mansidão que os dicionários não contemplam.
De fato, a mansidão é uma das virtudes cardeais cristãs que aparentemente não fazem o menor sentido em um mundo onde a seleção natural capitaneada pela lei dos mais fortes é que geralmente prevalece. Talvez, por isso, não poucas pessoas consideram a mansidão como uma fraqueza. A lógica é simples: num mundo dominado pelos mais fortes – empresários poderosos, ditadores impiedosos, traficantes implacáveis, ricos arrogantes, políticos inescrupulosos, chefes insensíveis etc. – ninguém deseja ser o “fracote” de quem a maioria só quer tirar vantagem.
Todavia, a virtude da mansidão não tem nada a ver com fraqueza. Jesus sabia disso, tanto que, no Sermão do Monte, pronunciou a conhecida sentença de que a terra será herdada pelos mansos, os quais, no fim da história, serão os bem-aventurados. E a definição de “bem-aventurado” é “absurdamente feliz”. Jesus certamente não estava defendendo uma atitude subserviente diante das pessoas ou uma mentalidade derrotista na vida. Ao contrário, Ele estava orientando os Seus seguidores para que fossem submissos a Deus e colocassem toda a sua força ou capacidade de reação sob o controle exclusivo Dele.
Podemos aprender o conceito de mansidão cristã observando a maravilhosa cooperação que existe entre o cavalo e seu cavaleiro, obviamente guardando as devidas proporções. Embora seja um animal grande e extremamente forte, pesando cerca de sete vezes mais do que um homem, o cavalo submete-se ao controle do seu dono. Ele pode correr, saltar, empinar, virar ou ficar imóvel, simplesmente atendendo a um leve comando. Este é um grande exemplo de força perfeitamente sob controle.
De outro modo, o que é preferível: um rio sem nenhum controle e que a tudo inunda, ou esse mesmo rio sob o controle efetivo de canais de macrodrenagem e canais de irrigação?
Penso que é exatamente isso – força sob controle – que define o conceito cristão de mansidão. Em vez de agirmos com a nossa própria força, voluntariamente nos colocamos sob o controle de Deus e deixamos que a Sua vontade prevaleça na nossa vida. Foi isso o que Jesus fez: Ele submeteu o Seu poder à vontade do Pai. Desse modo, quando somos mansos num mundo de fortes, estamos seguindo o exemplo do próprio Jesus. E ninguém, em sã consciência, pode dizer que houve qualquer fraqueza na atitude de mansidão demonstrada por Jesus diante dos implacáveis chefes religiosos judeus e do poderoso Império Romano.
É fácil ser manso quando as condições cooperam para isto. Em condições normais, a maioria das pessoas se comporta de maneira socialmente aceitável. Elas dão a impressão de que tudo está sob controle. Porém, um excelente teste de caráter é a maneira como reagimos sob a pressão de uma adversidade. Não poucas pessoas, quando apanhadas desprevenidas, ou são inesperadamente transtornadas, revelam sua verdadeira disposição.
Certo professor, ao ensinar esse conceito, mostrou aos seus alunos dois vasos cujo conteúdo parecia igual. Quando o primeiro vaso foi entornado, jorrou vinagre de seu interior. Então o segundo vaso foi virado e escorreu vinho de seu interior. Os dois vasos pareciam semelhantes, mas postos de cabeça para baixo, o verdadeiro conteúdo foi revelado.
Moral da história: aquilo que guardamos bem no fundo do nosso ser vem para fora quando somos provados. Nossas reações diante das pressões podem revelar quem realmente somos: mansos sob controle, portanto, fortes; ou fortes sem controle, portanto, fracos.
Para ilustrar um de seus sermões, o missionário Hudson Taylor, pioneiro na China, encheu um copo com água e o colocou sobre uma mesa que lhe servia de púlpito. Enquanto falava, bateu com o punho na mesa, com força suficiente para que a água se derramasse na mesa. Em seguida, ele explicou: “Vocês passarão por muitos problemas. Quando acontecer, porém, lembrem-se: somente o que há dentro de vocês será lançado para fora”. Moral da história: A gente só dá o que tem.
Em um mundo acossado por injustiças, vale a pena pensar no modo como respondemos às diversas situações que nos confrontam diariamente, pois é isso que mostra quem realmente somos. Faça o teste: quando alguém faz algo de que você não gosta, como reage?
Quando somos incompreendidos ou maltratados, como reagimos? Ficamos submissos ao Espírito de Deus, deixando que Ele nos guie, ou somos inclinados a retaliar?
É preciso mais força para ser manso do que para ser forte. O manso, em vez de agir com a própria força, mantém comunhão com Deus e se submete à vontade Dele. Confiando na direção do Senhor, o que sair do seu coração será puro e bom.
O forte, ao dar vazão aos próprios sentimentos, ao ser dominado pelas próprias paixões, mostra a sua feiura interior e revela-se fraco.
Lembre-se: existe grande fortaleza na mansidão. Somente os mansos, não os fortes, herdarão a terra. E você, ao entregar o seu coração a Jesus, se habilita à herança dos mansos.

Samuel Câmara

Pastor da Assembleia de Deus em Belém

E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv