Sabemos que a Páscoa é uma festividade religiosa totalmente integrada ao calendário nacional. As motivações de celebrá-la, porém, são distintas e também distantes de todo o quadro original de orientação judaico-cristã da festividade. Para muitos, as melhores lembranças são representadas por ovos de chocolate e coelhinhos. Outros enxergam apenas a possibilidade de bons lucros. Alguns circunscrevem a sua importância ao aspecto legalista com verniz religioso, em termos da proibição de comer carne vermelha e da obrigação de frequentar alguma igreja.
Para outro grupo de pessoas, porém, a Páscoa representa mais do que religiosidade; representa contrição, arrependimento e gratidão pela obra redentora de Cristo, assim como identifica comunhão íntima com Deus.
No século da informação, contraditoriamente, a maioria das pessoas quase nada sabe sobre a origem da festa e tampouco o seu significado. Por isso, é importante lembrar que a Páscoa, originalmente, foi instituída como uma festividade pela libertação do povo de Israel do Egito, no evento conhecido como Êxodo.
Antes do ato de libertação, porém, o Senhor ordenou a cada família de Israel que tomasse um cordeiro de um ano e sem defeito, que o sacrificasse e o comesse assado, acompanhado de ervas amargosas e pão sem fermento. A obediência a esses preceitos traria a proteção do Senhor e favoreceria a saída definitiva de todo o povo de Israel da escravidão do Egito.
A décima praga (a morte de todos os primogênitos) estava para acontecer. Por isso, eles tinham de passar o sangue do cordeiro nos umbrais e nas vergas das portas, pois quando o Anjo da morte percorresse a terra, passaria por cima das casas que tivessem o sinal do sangue e pouparia os seus primogênitos.
É desse evento que advém o termo Páscoa, do hebraico pesah, que significa “passar por cima”, “pular além da marca”, ou “poupar”. E assim, os primogênitos de Israel foram poupados. Depois que o povo de Israel saiu do Egito, Deus ordenou que a Páscoa fosse celebrada continuamente como um memorial dessa libertação.
Os teólogos cristãos são unânimes quanto ao entendimento de que a Páscoa contém um simbolismo profético (como “sombra das coisas futuras”) que apontava para um evento futuro, a Redenção efetuada por Cristo, como está escrito: “Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós” (1 Co 5.7).
Desse modo, o cordeiro morto (com o seu sangue aspergido nas portas) era símbolo do sacrifício de Cristo na cruz pelos nossos pecados. O cordeiro “sem defeito” prefigurava a impecabilidade de Cristo, que era “o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29).
As ervas amargosas prefiguravam a necessidade de contrição e arrependimento. Como o fermento espiritualmente simboliza a corrupção do pecado, o pão sem fermento indicava a pureza que é requerida de quem serve a Deus. O comer a carne do cordeiro representava a identificação com a Sua morte.
O sacrifício do cordeiro servia de substituto dos primogênitos e prenunciava a morte de Cristo em substituição à nossa. O cumprimento de todo esse ritual identificava a obediência que vem da fé e que resulta na salvação.
A Páscoa teve o seu cumprimento em Cristo. Ele é a nossa Páscoa. Foi durante a Páscoa que o próprio Jesus instituiu a Santa Ceia como lembrança de Sua morte. Celebrada com pão e vinho, que apontavam para o Seu corpo ferido e o Seu sangue derramado na cruz para salvar os pecadores, serviria de lembrança permanente do Seu sacrifício vicário (1 Tm 1.15).
Em suma, a Páscoa simboliza, para judeus e cristãos, três coisas: liberdade da escravidão, salvação da morte e caminhada para a terra prometida. Para os judeus, tinha um sentido físico, pois havia uma escravidão a ser subvertida, uma morte iminente a ser suplantada e uma terra a ser conquistada.
Depois da morte e ressurreição de Jesus ficou o sentido de natureza espiritual, indicando a necessidade de libertação da escravidão do pecado, a salvação da morte eterna, assim como a caminhada na certeza de que o céu onde Cristo habita é o nosso destino final.
Alguns religiosos sinceros celebram a Páscoa com um misto de tristeza e compaixão pela morte de Cristo, como se Ele ainda estivesse no túmulo. Mas a Páscoa deve ser comemorada com alegria, pois aponta para a libertação que a ressurreição de Jesus nos propiciou. Cristo está vivo e ainda ressoam as Suas palavras: “Eu sou o primeiro e o último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos” (Ap 1.18).
Agora, uma pergunta precisa ser respondida: será que Jesus aprova que festejemos a Páscoa e vivamos presos aos mesmos pecados pelos quais Ele morreu? Certamente, não!
Jesus quer libertar a todos os cansados e oprimidos, quer dar descanso para suas almas, curando-os e salvando-os para uma nova vida de paz e alegria. Isto porque Jesus, verdadeiramente, é a nossa Páscoa!
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv